ARTESÃS DE HISTÓRIAS: A UTILIZAÇÃO DA BONECA ABAYOMI COMO RECURSO PARA DEBATES ÉTNICO-RACIAIS

2019 
Na atualidade, observamos que existe um crescente movimento de debates etnico-raciais, discussoes acerca da s vulnerabilidades da populacao negra, racismo, cotas, propostos em grande parte por movimentos sociais e coletivos de pessoas negras. Estes debates, no entanto, geralmente ocorrem em espacos institucionais, academicos e politicos, dificultando a aproximacao da populacao em geral, dessas pautas. Nesse sentido, descreveremos, neste trabalho, uma experiencia de conexao entre arte e cultura na producao do cuidado, e como um movimento de resistencia, realizada em um dos encontros do Grupo de Convivencia, que ocorre no territorio da Unidade Basica de Saude (UBS) Lindoia, em Londrina - PR. O grupo de Convivencia e um grupo aberto, com atividades mediadas por profissionais da Residencia Multiprofissional em Saude da Mulher (RMSM) da Universidade Estadual de Londrina. Pensando em tratar do tema etnico-racial, propomos em um dos encontros no mes de junho de 2019, a confeccao da boneca Abayomi, que tem em sua historia, uma relacao com o movimento de resistencia da populacao negra. No inicio da atividade, cada participante foi informada que iria confeccionar a boneca, e que ao final seria contada sua historia e origem. Logo no inicio foram repassadas as instrucoes de materiais necessarios; entre eles, dois retalhos de tecido preto, que representaria a pele da boneca. Neste momento, algumas mulheres questionaram se era obrigatorio ser dessa cor, se nao podia ser outra cor, e respondemos que deveria ser preta, e que no momento da historia, elas entenderiam o motivo. Ao longo da construcao do vestido, do turbante, surgiram alguns comentarios sobre a Abayomi, como “ parece vodu” e que “ faltavam apenas algumas agulhinhas para espetar nela ” . Uma participante chegou a bater na boneca enquanto estava no processo de finalizacao, e apenas uma fez um comentario mais sutil: “ parece uma baianinha”. Vale registrar que apenas uma participante era branca, e permaneceu em silencio o tempo todo. Ao termino da atividade, foi contada a historia: Abayomi, do dialeto Ioruba, significa “encontro precioso”. A boneca surgiu nos navios que traziam africanos para serem escravizados no Brasil. As mulheres, para acalentar seus filhos, rasgavam as barras de suas saias e confeccionavam as bonecas apenas com nos ou trancas, para as criancas terem algo para brincar. Apesar da construcao ser simples, a boneca tornou-se um simbolo de resistencia e resgate historico de negros e negras. Com a finalizacao da historia, as mulheres compreenderam porque era necessario representar o corpo com o tecido preto, e afirmaram ser interessante ouvir este tipo de historia. No momento de ir embora, todas pediram que o nome da boneca fosse anotado, para que nao se esquecessem, demonstrando uma mudanca do discurso inicial. As mulheres que ja tinham netos enfatizaram que iriam contar a historia e ensina-los a fazer a Abayomi. Conclui-se que a realizacao da atividade que integrou a arte e a cultura proporcionou uma reflexao sobre  questoes etnico-raciais, e a sensibilizacao para um movimento de cuidado e resistencia.
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