OLHAR EM TRÂNSITO: IMAGENS DE SERTÃO E SERTANEJO NO DIÁRIO DE UMA EXPEDIÇÃO DE EUCLIDES DA CUNHA

2017 
No desenrolar do processo historico do que viria a ser o Brasil, a ideia de sertao ocupa um lugar central na imaginacao social brasileira, seja enquanto elemento definidor de uma percepcao dos espacos ou regioes seja como suporte de memorias e identidades. Sertao passa a ser uma categoria essencial a partir da qual se imagina o espaco, a cultura e a nacao brasileira; o Brasil e algo que se pensa como constituido de litoral e sertao (Soares, 2009). A relevância do signo sertao para pensar o Brasil ganha acento entre o final do seculo XIX e as primeiras decadas republicanas, em especial quando o sertanejo assume, em substituicao ao indigena, a primazia enquanto perfil historico do nacional autentico. Euclides da Cunha ja tratava de questoes ligadas ao sertao e ao sertanejo, desde a escrita do artigo intitulado A nossa Vendeia, publicado no jornal O Estado de S. Paulo, no qual associava a contestacao dos conselheristas aos camponeses contra-revolucionarios franceses da regiao Vendeia, ao tempo em que buscava explicar o reves militar a partir de elementos ligados ao meio fisico e natural da regiao onde se travava o combate. Em 17 de julho de 1897, e com o mesmo titulo do artigo anterior, retoma retorna ao assunto, reforcando os argumentos sobre o papel jogado pela natureza na luta entre os seguidores de Antonio Conselheiro e os exercitos republicanos. Euclides escreve sobre Canudos e os sertoes de longe, sem nunca ter estado na regiao do conflito. De qualquer modo, em razao dos textos publicados o engenheiro militar foi convidado pelo jornal a desempenhar o papel de correspondente de guerra. Chegou a Salvador em 7 agosto de 1897, dai partindo para o sertao de Canudos em final do referido mes, viajando de trem ate Queimadas, onde chegou em 1o de setembro, dai seguindo a cavalo ate Monte Santo (6 de setembro) e posteriormente para o arraial de Canudos (16 de setembro), onde permaneceu ate o dia 3 de outubro. Neste intervalo de tempo, alem de diversos telegramas, Euclides da Cunha enviou para O Estado de Sao Paulo uma serie de textos com registros e impressoes da viagem (paisagem, conflito, etc), configurando-se como o Canudos: Diario de uma expedicao (2003), sendo publicado em 1939, pela Livraria Jose Olympio Editora, sob a organizacao de Antonio Simoes dos Reis. Tomamos como objeto desta pesquisa investigar as imagens de sertao e de sertanejo presentes no Diario de uma expedicao de Euclides da Cunha (2003). Tensionando obra, autor e a epoca procuramos perceber as permanencias e deslocamentos da percepcao euclidiana em relacao ao sertao baiano-canudense e sua gente, atraves do confronto entre as primeiras imagens, expostas nos artigos A nossa Vendeia e aquelas que vao sendo (re)elaboradas ao longo da viagem para a regiao conflagrada de Canudos. E possivel perceber que o olhar ativado, fruto do contato real com a paisagem fisica e social do norte da Bahia, opera desenquadramentos na percepcao de Euclides da Cunha, embora predomine a prefiguracao do momento da partida.
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