Diálogos com as mulheres na política local baiana: famílias, tradições e representações entre o público e o privado
2012
O fato de maior participacao feminina, em numeros, nos quadros administrativos e politicos – dentro do processo contemporâneo brasileiro e baiano – indica uma efetiva cidadania, espacos conquistados e bandeiras desfraldadas? A partir dessa questao geradora, o presente trabalho reflete sobre o “empoderamento” das mulheres, acessando debates sobre genero e o binomio inclusao/exclusao, tal como sua incidencia na politica municipal, pensadas como agentes de exercicio do poder politico. Centrado em historias de vida e de familias, analisa as categorias genero e parentesco, que perpassam as atuacoes, explorando o entrecruzamento de mundos que conformam o universo politico, em uma perspectiva que compreende genero como parte de um sistema de relacoes. Com o proposito de ultrapassar a visao naturalizada/essencializada do papel feminino no espaco politico, este estudo tem como objetivo analisar como se dao as relacoes entre o publico e o privado das mulheres que atuam na politica, com a perspectiva de compreender como elabora a consciencia de si e para si. Em uma perspectiva ampla e alerta dos problemas historicos e culturais dos quais as mulheres se mantiveram invisibilizadas. Uma discussao que demonstra a incorporacao da diversidade. De forma especifica, pretende identificar como as mulheres investidas de um cargo politico exercem a cidadania nos espacos publico e privado, fazendo valer o principio da nao discriminacao, compreendendo se realmente conseguem autonomia e/ou se “empoderar” no sentido de tomar atitudes e levantar bandeiras de luta contra as segregacoes, violencias e vulnerabilidades. Propoe alargar o campo das reflexoes sobre representacoes sociais e politicas, trazendo aspectos cientificos e interdisciplinares. A metodologia utilizada consistiu em estudo de casos multiplos envolvendo historias de vida e de familias e analise de conteudo, com as contribuicoes das teorias feministas, das representacoes sociais e filosofia politica, com o emprego de diversas tecnicas, entre elas, a entrevista aberta e em profundidade com as prefeitas dos municipios do Estado da Bahia, gestao 2009-2012. Privilegia-se a categoria genero como instrumento analitico e relacional, familias como redes, vinculos e construcoes sociais e culturais, questiona as representacoes sociais e admite as perspectivas historicas que negligenciaram a invisibilidade das mulheres no percurso da contemporaneidade e os estereotipos existentes em relacao aos papeis de genero, alem de buscar, no cotidiano dos sujeitos, aspectos entrelacados que norteiam suas condutas e praticas. Investiu-se em um detalhamento sobre a realidade de mulheres no poder local baiano, ao ouvir suas “vozes” a partir do cotidiano vivido, percebendo os entraves e as conquistas que perpassam o modo de atuacao delas no espaco publico, demonstrando ideias e acoes. A base epistemologica vem cruzando as fronteiras dos feminismos e o interesse foi contribuir para o entendimento com referencia a participacao e atuacao das mulheres na politica, especialmente que nao se deve julgar sem analisar suas condicoes e cada caso em particular. As mulheres, em suas multiplas acoes, referencias e atuacoes, agindo na politica, enfrentam situacoes unicas e muitas variaveis estao em jogo. Ademais, sao apenas “pecas na engrenagem” do poder politico dominante e da reproducao do capital e de uma praxis de ordem patriarcal. Nesta acepcao, corre-se o risco de se perder a riqueza e as sutilezas da particularidade ou da singularidade - as nuances, as matizes de sentido que requerem atencao a detalhes e conhecimento vasto de causa especifica. Entre o geral e o particular, entre feminismos e outras aproximacoes teoricas que suportam olhares e propostas de intervencao, a realidade estudada, vista de perto, demarca espacos de avancos quantitativos, seja no âmbito nacional e regional, alem do quadro atual estar favoravel a uma tomada de consciencia das mulheres em lutar pelos seus direitos civis, afirmando-se cada vez mais, pela sua autonomia pessoal e desejo de emancipacao. Entretanto, sem necessariamente induzir ou creditar ao feminismo uma conquista. A conclusao que se chega ao final de um trabalho dessa natureza, e que o poder, sobretudo das mulheres, e algo distante, apostando mais na consciencia e na praxis de transformar, do que realmente em dados numericos. Sao novos tempos em que os disfarces transformam a dominacao em algo tao sutil que se torna quase impossivel percebe-la. A “sociedade do espetaculo” determina um dialogo politico muitas vezes empobrecido e de mesmices. O patriarcado nao mais se insere na logica do poder absoluto nas maos de alguns homens, sofrendo profundas mutacoes, adquirindo novas “roupagens” e caracteristicas. A sua metamorfose desencadeou a servico de um poder mais forte e dominador, o capitalismo avancado. Este consegue driblar as mentes humanas e inserir as mulheres em um emaranhado de jogos de interesses e dominacoes distantes do que seria um “empoderamento” delas com o escopo de haver verdadeiramente a emancipacao social e politica de todos os seres humanos, em um mundo com equidade e justica social.
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