Interprofissionalidade na Estratégia Saúde da Família: condições de possibilidade para a integração de saberes e a colaboração interprofissional

2014 
O principio da interprofissionalidade e criterio fundamental que orienta equipes multiprofissionais na Estrategia Saude da Familia. A acao profissional, no entanto, parece ser marcada por uma logica caracterizada pela delimitacao estreita de territorios de cada categoria, conformando um quadro de disputa entre as logicas contraditorias da profissionalizacao e da interprofissionalidade. Esta e compreendida como a sintese de um processo de integracao de saberes e de colaboracao interprofissional, processos estes mediados pelos afetos. Considerando haver obstaculos diversos para a efetivacao da interprofissionalidade, a pesquisa objetiva compreender a dinâmica das relacoes interprofissionais na producao do cuidado na Estrategia Saude da Famila, explorando a existencia de condicoes de possibilidade para a construcao da interprofissionalidade na Atencao Primaria a Saude no Brasil. Trata-se de estudo de caso, de natureza qualitativa, inspirado na Hermeneutica. O cenario de estudo e um Centro de Saude da Familia, numa capital brasileira. A recolha das informacoes foi procedida no periodo de marco a agosto de 2011, com realizacao de entrevistas abertas, observacao das atividades desenvolvidas pelas equipes e realizacao de oficinas de producao de conhecimento, envolvendo 23 profissionais da ESF, Nucleos de Apoio a Saude da Familia e residentes de Medicina e de Saude da Familia e Comunidade. Foram identificadas condicoes de possibilidades da interprofissionalidade na ESF, sintetizadas em tres dimensoes: organizacional, coletiva e subjetiva. Incluem-se na dimensao organizacional dispositivos e arranjos institucionais, suportes para as atividades interprofissionais, quais sejam: a estruturacao de uma “Rede de Saude – Escola”, transformando todas as unidades de saude de um municipio em espacos de ensino, pesquisa e assistencia; a “Educacao Permanente Interprofissional” que contribua para ultrapassar a logica da profissionalizacao ainda hegemonica na formacao dos trabalhadores da saude; bem como a “Abordagem Centrada na Familia”, em contraposicao a tendencia de organizar os servicos de saude com base em interesses corporativos. A segunda dimensao enfoca aspectos relacionados a organizacao dos profissionais como grupo de trabalho, ou seja, a organizacao do coletivo em comunidade de pratica, caracterizada pela pactuacao de um projeto em comum, engajamento mutuo e repertorios compartilhados. Mesmo tendo sido os profissionais da saude formados hegemonicamente para a logica da profissionalizacao, envolvendo luta por status e reserva de mercado de trabalho, a participacao numa equipe da ESF, constituida como comunidade de pratica, possibilita a aprendizagem de outros valores, favorecendo a integracao de saberes e a colaboracao interprofissional, embora nao livre de conflitos. A terceira dimensao privilegia aspectos subjetivos, como a identificacao dos profissionais com o modelo assistencial da ESF, saber lidar com frustracoes e a afetividade. Consideramos ser possivel a interprofissionalidade, desde que sejam disponibilizadas condicoes organizacionais e coletivas, mobilizadoras de aspectos subjetivos dos profissionais. A oferta das condicoes de possibilidade, no plano organizacional, e indispensavel, mas nao suficiente para a integracao de saberes e a colaboracao interprofissional. Sem a mobilizacao dos afetos, dos desejos e dos micropoderes de cada sujeito, nao ha interprofissionalidade possivel.
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