Trabalho, sono e bem-estar associados à evolução clínica de pessoas vivendo com HIV

2019 
Introducao: Com o advento da terapia antirretroviral (TARV), a infeccao pelo HIV assumiu caracteristicas de uma doenca cronica. No entanto, a despeito dos avancos conquistados, pessoas vivendo com HIV (PVHIV) apresentam elevadas prevalencias de disturbios do sono e de transtornos psiquiatricos, os quais interferem diretamente na reconstituicao do sistema imune. O ambiente e organizacao do trabalho tambem podem influenciar a evolucao clinica de trabalhadores que vivem com HIV, uma vez que o trabalho e considerado um determinante social das condicoes de saude. Objetivo: Avaliar a associacao dos aspectos relacionados ao trabalho, sono e bem-estar subjetivo com a evolucao clinica de PVHIV em seguimento clinico pelo Servico de Assistencia Especializada (SAE) do municipio de Santos (SP). Metodos: Estudo epidemiologico transversal realizado com 115 trabalhadores vivendo com HIV, sendo 97 diurnos e 18 noturnos. O instrumento de coleta de dados foi aplicado em forma de entrevista no proprio SAE. Os dados referentes aos indicadores bioquimicos (quantificacao da carga viral, contagem de linfocitos T CD4 e relacao CD4/CD8) foram obtidos atraves do Sistema de Controle de Exames Laboratoriais de CD4/CD8 e Carga Viral (Siscel). Para comparacao das medias dos indicadores da evolucao clinica de acordo com os aspectos relacionados ao trabalho, sono e bem-estar subjetivo foram realizados modelos lineares generalizados (GLM) com post-hoc LSD. Foram utilizadas como variaveis de ajuste: sexo, idade, tempo de diagnostico do HIV, tempo de uso de TARV, uso de efavirenz (cujos efeitos adversos podem ser confundidos com sintomas de depressao), uso de substâncias psicoativas (medicamentos para dormir e drogas ilicitas), disturbio emocional leve e disturbio emocional severo. Em todos os testes foi adotado o nivel de significância de 5%. As analises estatisticas foram realizadas nos softwares Stata 12.0 e STATISTICA 7. Resultados: A amostra possuia idade media de 43 anos (DP=10,3 anos) e foi composta principalmente por individuos do sexo e genero masculinos (54,8% e 49,6%, respectivamente), sem companheiro(a) (71,3%) e com ensino medio completo (51,3%). A maioria possuia vinculo de trabalho informal (53,5%) e foi classificada com otima ou boa capacidade para o trabalho (57%). Nos dias de trabalho, houve maior prevalencia de ma qualidade do sono 52,2%). Verificou-se elevada prevalencia de sintomas de insonia (78,6%) e 37,4% da amostra foram classificados com baixo nivel de bem-estar subjetivo. A mediana do tempo de diagnostico foi de nove anos (AIQ=4-17 anos), enquanto a mediana do tempo de TARV foi de sete anos (AIQ=1-12 anos). A maioria possuia carga viral indetectavel (75,9%), contagem de linfocitos T CD4 ?200 celulas/mm³ (89,4%) e relacao CD4/CD8 <1 (71,7%). Houve associacao significativa entre bem-estar subjetivo e carga viral (p<0,01), contagem de linfocitos T CD4 e necessidade de recuperacao apos o trabalho (GLM p=0,04, post-hoc p=0,02) e relacao CD4/CD8 e necessidade de recuperacao apos o trabalho (GLM p=0,04, post-hoc p=0,03). Houve associacao limitrofe entre contagem de linfocitos T CD4 e turno de trabalho (p=0,05). Conclusao: Baixos niveis de bem-estar subjetivo parecem estar associados a uma maior carga viral. Alem disso, trabalhadores noturnos possuem menor relacao CD4/CD8, enquanto aqueles com maior fadiga apresentam maior contagem de linfocitos T CD4. No entanto, capacidade para o trabalho, qualidade de sono e sintomas de insonia nao influenciam os indicadores da evolucao clinica de PVHIV.
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