CRACK NEM PENSAR: O PROCESSO DE DESCOBERTA/ACEITAÇÃO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA POR FAMILIARES DE USUÁRIOS

2014 
Este trabalho objetiva apresentar um recorte dos resultados da pesquisa “A realidade do crack em Santa Cruz do Sul” realizada desde 2010 na Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC/FAPERGS). A coleta de dados foi atraves de dois roteiros semi-estruturados, envolvendo participacao de 100 usuarios de crack e 100 familiares de usuarios. Os participantes foram contatados por meio de servicos de saude. Participantes assinaram termo consentindo publicacoes e assegurando confidencialidade das informacoes. Apos coleta de dados seguiu-se analise quantitativa e caracterizacao socioeconomica dos sujeitos. Atualmente, procede-se a analise qualitativa com metodologia de analise dos sentidos (re)produzidos nos discursos dos familiares (SPINK, 2000). Neste resumo apresentam-se reflexoes sobre como a descoberta do uso de crack se faz presente no discurso dos familiares. A maioria dos familiares somente se da conta do uso de crack quando: a policia se envolve, usuario verbaliza pedido de ajuda, encontra a droga nos seus pertences, o uso se da dentro de casa, ha desaparecimento de dinheiro, moveis e objetos. Conclui-se que a percepcao/conscientizacao de tal problematica por parte dos familiares requer a vivencia explicita desta situacao (comportamento, verbalizacao, ver, sentir). Contudo, alguns casos, constata-se que, apesar desta situacao explicita, ainda persistem afirmacoes que negam a relacao do sujeito com o crack, assinalando uma possibilidade de aceitacao/reconhecimento do uso de outras drogas menos discriminadas pela midia e sociedade, como maconha, cocaina. Neste sentido, aponta-se que o slogan “crack, nem pensar”, utilizado em campanhas midiaticas contra o crack na regiao sul do pais, configura um convite a nao reflexao e produz discursos de negacao do problema, distanciando usuario e familiares, reforcando a internacao como tratamento. Conclui-se sobre a necessidade de que a atencao e o cuidado dirigidos a esta populacao, leve em conta esta denegacao (NETO, 2009), ou seja, a forte tendencia de nao apenas negar um fato, mas negar que tem conhecimento deste. A denegacao e uma forma de desviar a consciencia de uma ideia inaceitavel a partir da separacao das funcoes intelectual e afetiva; impedida de se tornar aceitavel, esta ideia so alcanca a consciencia na forma de negacao. Ressalta-se que a estrategia inconsciente da denegacao, finda por exteriorizar e “desimplicar” os sujeitos nestas situacoes, outro ponto de tensao no enfrentamento da problematica do uso de crack.
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