Violência doméstica contextualização, reconhecimento e abordagem frente ao trabalho das equipes da UBS Vila Sabiá de Sorocaba-SP

2017 
Introducao: A violencia domestica e considerada um fenomeno complexo, bem fixado nas consciencias sociais e nas estruturas sociais, economicas e politicas. Representa toda acao ou omissao que prejudique o bem-estar, a integridade fisica, psicologica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de um membro da familia. A dificuldade em repudia-la expressa a lacuna existente no enfrentamento acerca do tema pelos profissionais de saude e ate mesmo pela comunidade. Cabe ressaltar que os servicos basicos de saude sao importantes instrumentos na deteccao do problema, porque tem, em tese, uma grande cobertura e contato com os viventes familiares. Os profissionais tendem a compreender a violencia domestica como problematica que diz respeito a esfera da Seguranca Publica e a Justica, e nao a assistencia medica. Objetivos: Sensibilizar e capacitar o trabalho das equipes de saude da Unidade Basica de Saude (UBS) Vila Sabia, a fim de ampliar as consideracoes a respeito da magnitude da violencia domestica, suas formas de abordagem e suas influencias biopsicossociais. Orientar as equipes de saude da comunidade da UBS Vila Sabia frente a abordagem de diferentes casos de violencia domestica e divulgar as diferentes redes de apoio nos casos de violencia domestica contra a mulher. Metodologia: O estudo foi realizado na Unidade de Saude da Familia Vila Sabia, em um bairro de baixa renda, no municipio de Sorocaba-SP. Durante a execucao desse Projeto Educativo em Saude, utilizou-se metodologia descritiva com variaveis qualitativas e quantitativas, baseado em relatos dos profissionais de saude, rodas de conversa, palestras informativas e questionarios elaborados pelos proprios alunos. A observacao participante com analise antropologica foi a primeira etapa da pesquisa. Teve por objetivo a identificacao dos relatos dos profissionais de saude frente a tematica, para melhor direcionarmos o processo de capacitacao e orientacao frente a abordagem da violencia domestica.  Resultados: Dentre as agentes comunitarias de saude (ACS) da UBS Vila Sabia que responderam aos questionarios, todas sao do sexo feminino, apresentam idades entre 30 e 51 anos, escolaridade predominantemente de ensino medio e tempo de servico como ACS, em media, de nove anos. Nove delas responderam o questionario inicial e oito responderam o questionario final. Inicialmente, foi perguntado se elas ja haviam presenciado casos de violencia domestica, no questionario inicial sete responderam “sim” e duas nao responderam a pergunta. Em seguida, as ACS que responderam “sim” fizeram um breve relato sobre suas experiencias. Seis delas descreveram algum tipo de violencia domestica, sendo que duas agentes citaram violencia fisica (maus tratos e agressao), duas citaram casos de violencia psicologica e uma relatou casos de violencia sexual e uma de violencia verbal. No questionario final, em relacao a mesma questao, nao houve mudancas significativas nos envolvidos na violencia. Nos relatos das oito agentes que participaram dessa atividade, prevaleceu a violencia fisica e psicologica contra criancas por parte dos pais. Houve duas agentes que relataram nao presenciar casos de violencia e uma se absteve da resposta. Em segunda analise, solicitamos no questionario que as ACS referissem se as vitimas dos casos relatados por elas tinham recebido algum tipo de atendimento. No questionario inicial quatro ACS responderam que sim e cinco responderam que nao sabiam. Ja no questionario final, apenas uma ACS respondeu que sim e todas as demais que nao sabiam ou desconheciam o desfecho do caso. Entre os centros de servico que os profissionais da saude conheciam como referencia ao atendimento as vitimas de violencia domestica, os mais explicitados no questionario inicial foi o Centro de Integracao da Mulher (CIM) e Centro de Referencia de Assistencia Social (CRAS) e ja no questionario final, somou-se aos demais a Delegacia da Mulher. O levantamento final de dados atraves dos questionarios aplicados aos profissionais de saude da UBS Vila Sabia, em especial os ACS, demonstraram que os mesmos: 1) perceberam que a violencia psicologica leva a mulher a submissao incondicional ao parceiro. 2) concordam com a atencao ao agressor como meio de prevencao da violencia. 3) notaram que existe um ciclo da violencia que se mantem mesmo com a mudanca de parceiros. 4) observaram que a nova relacao conjugal se sobrepoe a relacao parental, dificultando reconhecimento pelos pais e denuncias pelas criancas dos casos de violencia. 5) reconheceram o alcoolismo como desencadeador e/ou agravador da pratica agressiva. No entanto, o Projeto Educativo em Saude resultou uma nova percepcao da forma como as ACS compreendiam a violencia domestica dentro da sua area de atuacao e, a partir disso, a busca de uma conduta por elas assumida para prestar assistencia adequada, visando a promocao da saude. Foi possivel evidenciar a importância dessas equipes multiprofissionais de saude quanto ao acompanhamento das vitimas da comunidade. No limite, ficou explicito que cada caso e particular e que os contextos em que eles ocorrem devem sempre ser levados em conta, investigados, analisados e para posteriormente realizar a intervencao. Portanto, foi proposto que para qualquer tipo de caso houvesse uma sensibilizacao quanto aos dois lados, tanto vitima, quanto agressor, de modo a oferecer auxilio e a reabilitacao para ambos.  Conclusoes: De forma geral, observou-se que o tema ampliou a visao da equipe, pois, apesar de saberem da existencia de outros tipos de violencia, atentavam-se apenas para a fisica. Dessa forma, segundo as entrevistadas, a relativizacao do tema pode ser confrontada pela intervencao dos alunos. Tambem foi relatado que muitas mulheres, inclusive as proprias agentes, nao tinham consciencia que estao sofrendo e/ou presenciando um caso de violencia domestica, e que o tema e o trabalho as sensibilizaram e as proporcionaram um olhar diferente e mais atento. As reunioes com as representantes do CIM Mulher e da Delegacia da Mulher foram eficientes na orientacao sobre os usos e funcoes das redes de apoio e serviram de aprendizado sobre como orientar e nao julgar os envolvidos. A intervencao demonstrou-se positiva na ultima reuniao de equipe, o que fez com que o tema predominasse e muitos casos foram discutidos e refletidos.
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []