Representação política e lutas sociais: quem fala em nome de quem no debate sobre a educação de surdos

O presente trabalho investiga como se constitui a representacao politica em torno das demandas e dos posicionamentos sobre o melhor modelo de educacao de surdos: escola bilingue, especial ou inclusiva. De modo mais especifico, busca-se compreender o lugar dos proprios afetados que se organizaram no Movimento Surdo brasileiro na constituicao dessa representacao, em relacao aos outros tipos de representacao politica. Interessa-nos a perspectiva processual e discursiva trazida pelas novas abordagens sobre representacao, o que acaba por vincular as questoes politicas a perspectiva comunicacional. Para tanto, mapeamos os representative claims (demandas por representacao) proferidos a) em um grupo fechado de liderancas surdas organizado no Facebook, b) em uma audiencia publica realizada na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadao, em dezembro de 2011, e c) no Grupo de Trabalho sobre Educacao, da Conferencia Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiencia realizada em dezembro de 2012. O objetivo foi, de modo geral, identificar o que, quem e como se representa os discursos sobre a educacao de surdos, tanto do ponto de vista das liderancas, quanto de gestores, legisladores e outras fontes mencionadas nesse material. Conclui-se que a) a definicao do grupo de representados, bem como a autopercepcao dos afetados, os posicionamentos e as fontes de autoridade acionadas sao fluidas e moveis, a depender das audiencias; b) as identidades adscritivas ou o ser surdo funcionam como fontes de autoridades de fala para os surdos e pessoas com deficiencia, c) os principios e valores sao os mesmos para representantes de pontos de vista distintos; d) a representacao dos movimentos sociais aciona em seus proferimentos questionamentos sobre a propria legitimidade na representacao, num movimento de meta-representacao.