REATIVAÇÃO DE FALHAS: O CASO DA ZONA DE FALHA DE CÁSSIA/MG

2016 
A geologia pre-cambriana da regiao sudeste do Brasil e marcada por rochas supracrustais e do embasamento fortemente estruturadas por extensos cinturoes de cisalhamento. Alguns destes sao reativados como zonas de falha, controlando a deposicao de pequenas bacias sedimentares cenozoicas, bem como exercendo forte controle no modelado da paisagem. Neste sentido, a Zona de Falha de Cassia oferece uma condicao impar de investigacao deste quadro de evolucao geologica, por possuir um rico registro de reativacoes. A Zona de Falha de Cassia e marcada por uma faixa de deformacao de ate 2.500m de largura, estendendo-se por 92 km, segundo a direcao geral noroeste-sudeste. A referida estrutura se formou como uma zona de cisalhamento transcorrente sinistral durante o Ciclo Orogenico Brasiliano, associada a deformacao tardia da Nappe de Passos. Posteriormente, a descontinuidade foi reativada como uma falha normal, com bloco baixo a sudoeste. Esta fase e marcada pela superposicao de uma petrotrama cataclastica sobre a antiga trama milonitica, produzindo brechas tectonicas, cataclasitos e pseudotaquilitos. Infere-se que a reativacao tenha ocorrido no Neocretaceo, quando ocorreu a formacao do Arco do Alto Paranaiba e da Provincia Ignea homonima. Esta importante entidade tectonica foi ativa durante a deposicao dos grupos Sao Bento e Bauru, separando as bacias do Parana e Sanfranciscana. Ha evidencias de forte influencia da Zona de Falha de Cassia na evolucao da paisagem, com inversao de relevo na Serra do Itambe. Isto deve ter se dado pela erosao diferencial, entre os xistos e gnaisses facilmente erodiveis da Grupo Araxa, e os resistentes basaltos da Formacao Serra Geral presentes no bloco sudoeste. Outra importante feicao da paisagem e a presenca de couraca ferruginosa lateritica, atribuida ao Ciclo de Aplainamento Sulamericano e datada em aproximadamente 55 Ma. Esta couraca esta posicionada a 1.220m de altitude na Serra da Canastra, e a 1.140m no Planalto de Franca, indicando um desnivelamento relativo de 80m da laterita entre os blocos separados pela Falha de Cassia. Assim, tem-se uma forte evidencia de reativacao da Falha de Cassia pos-Paleoceno. Por fim, ha um conjunto de pequenos depositos sedimentares argilosos na regiao entre Cassia e Pratapolis. Tais depositos sao intensamente explotados pela industria cerâmica local, e se mostram fortemente controlados pela Zona de Falha de Cassia, ocorrendo quase que exclusivamente ao oeste da estrutura. Infere-se uma reativacao cenozoica da descontinuidade como uma falha normal, resultando no barramento da drenagem subatual e formacao de um paleolago. Resultados parciais da analise paleopalinologica dos pelitos apontam para ambiente permanentemente umido, com predominio de fitolitos e microalgas de agua doce. Alem disso, ha registro de polens de gramineas, Compositae, samambaias, e ate mesmo de vegetais desenvolvidos (gimnospermas) como Araucariacites, denotando vegetacao de campo umido no entorno do antigo lago. O registro palinologico indica ainda idade maxima neogena para tais depositos. Tais rochas sedimentares registram ainda zonas brechadas, fraturas e falhas, indicando se tratar de deformacao neotectonica. Deste modo, e possivel estabelecer um quadro evolutivo para a Zona de Falha de Cassia, mostrando sua longa historia de atividade, desde o Neoproterozoico ate o Cenozoico.
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