Poéticas da masculinidade em ruínas: o amor em tempos de AIDS

2017 
Grande parte da ficcao latino-americana contemporânea que problematiza a questao das sexualidades dissidentes, das homossexualidades e das masculinidades, concomitantemente, dialoga com a questao da pandemia global de HIV/AIDS. Alguns criticos chegam a falar em narrativas de AIDS, discursivizacao da epidemia, e mesmo de AIDS literature. Algo bastante recorrente nas narrativas de/sobre AIDS e que elas muitas vezes parecem pertencer a um outro mundo, ou, melhor dizendo, a um outro tempo. Um tempo de limitacoes que por vezes parece ja esquecido ate mesmo pela minha propria geracao, que teve suas primeiras experiencias sexuais sob as sombras das asas da Peste. Nao havia celulares, nao havia internet nem world wide web, nao havia websites de relacionamento ou redes sociais. Tampouco havia coquetel antirretroviral. Havia telefonia convencional, havia telefones publicos e havia – hoje praticamente pecas de museu – fichas telefonicas. Havia pornografia impressa, vendida quase que clandestinamente nas bancas de jornais, sendo que as revistas em papel couche impressas a cores eram abusivamente mais caras do que as em preto-e-branco, impressas em papel de jornal de baixa qualidade. Ao inves de redes sociais e das salas de chat, a socializacao de gays, lesbicas, bissexuais e travestis dava-se em bares e danceterias ocultos por fachadas iscretas, pertencentes a um roteiro compartilhado pela comunidade (que aquela epoca nao possuia qualificativos: nao era gay, nem lesbica, nem queer) e praticamente desconhecido por aqueles que nao entendiam. Em um tempo no qual a expressao entendido era giria para se referir a um homem homossexual, entender, em sentido restrito, terminava por se configurar como um comprometimento com alguma forma de dissidencia sexual subversiva.
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