From the dreaming to the gallery : Australian aboriginal art as a locus for intercultural dialogue and tension

2012 
A arte contemporânea dos povos indigenas da Australia e um fenomeno sui generis e ainda pouco conhecido no Brasil. Ancora-se em praticas e valores tradicionais, e, ao mesmo tempo, esta inserida nas instituicoes museologicas e no mercado de arte. Na Australia, sua valorizacao e institucionalizacao vem ocorrendo, gradualmente, desde os anos 1970, gracas a uma rede de apoio intersetorial e interetnica, abrangendo de orgaos publicos a cooperativas de artistas, de premios a leiloes. O reconhecimento internacional se faz igualmente notar em iniciativas como a encomenda feita a oito aborigines australianos, em 2006, para que realizassem intervencoes permanentes no edificio do Musee du Quai Branly, em Paris. Do ponto de vista formal, trata-se de uma producao muito diversificada, que pode ser dividida em movimentos ou estilos regionais, como a pintura "abstrata" de tinta acrilica sobre tela do Deserto Central, a pintura figurativa de pigmentos naturais sobre entrecasca de arvore de Arnhem Land e as aquarelas de paisagem de Hermansburg. O conteudo remete quase sempre a feitos dos ancestrais e a fragmentos do Dreaming - uma especie de tempo mitico comum a todas as etnias -, apesar de alguns pintores optarem por retratar cenas historicas tragicas, relativas ao encontro com os brancos. Destinada prioritariamente ao publico externo, a pintura aborigine australiana e distribuida por uma rede composta por dezenas de centros de artes comunitarios, dirigidos pelos proprios artistas, com o auxilio de agentes mediadores. Assim, as principais questoes que nortearam a pesquisa foram: Como ocorreu a transformacao de praticas tradicionais indigenas em arte contemporânea, na Australia? Quais os papeis e os interesses das organizacoes indigenas e do governo, respectivamente, na montagem da chamada Indigenous art industry? Como operam as nocoes de autoria, autenticidade e propriedade intelectual, nesse contexto? Por que o mesmo pais que massacrou seus nativos, ate tao pouco tempo atras, agora fomenta a producao artistica indigena e incorpora elementos aborigines na construcao da identidade nacional? Para buscar responder a tais questoes, inspirei-me - principal, mas nao exclusivamente - em autores e debates da antropologia da arte: Howard Morphy e seu questionamento das definicoes eurocentricas de arte e artista; Alfred Gell e sua abordagem das agencias envolvidas no processo artistico; Sally Price e sua discussao da postura primitivista no circuito euroamericano de museus e galerias; Sherry Errington e sua problematizacao da ideia de autenticidade, entre outros. Baseei-me tambem em pesquisa de campo, realizada junto a cerca de 30 organizacoes australianas, entre galerias comerciais, museus publicos, cooperativas indigenas e agencias estatais, e ainda em alguns museus e galerias europeus. O objetivo era investigar os mecanismos, as relacoes e tensoes inerentes a um sistema que, se por um lado oferece uma rara oportunidade de geracao de renda e visibilidade para as comunidades indigenas australianas, por outro lado suscita impasses eticos e juridicos de dificil resolucao. Ao cabo do percurso, fica claro que a arte indigena da Australia serve, hoje, como um raro locus de comunicacao entre os povos nativos e a sociedade envolvente, uma plataforma sobre a qual se constroi - nem sempre harmonicamente - um produto intercultural de grande apelo estetico, cujas exposicao e comercializacao acarretam impactos simbolicos, economicos e politicos. Abstract
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