MEDICAMENTOS PRESCRITOS EM GESTANTES EM UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE, CASCAVEL-PR

2012 
Introducao: O uso de medicamentos na gestacao merece especial atencao pelos riscos potenciais ao feto em desenvolvimento, devendo ser, por principio, evitada, ja que a maioria dos farmacos administrados a mulheres gravidas atravessa a barreira placentaria e expoe o embriao em desenvolvimentos a seus efeitos farmacologicos. Apos a tragedia da talidomida ocorrida entre 1950 e 1960 a utilizacao de medicamentos por gestantes e seus efeitos sobre o feto passou a ser objeto de grande preocupacao. A gravidez e uma ocasiao unica, dado que a exposicao de um afeta dois organismos, sendo que um deles (o feto) ainda nao tem a mesma capacidade de metabolizar substâncias que a mae, estando assim, mais sujeito a efeitos negativos nao esperados. Os farmacos que sao reconhecidos como teratogenicos representam um grupo relativamente pequeno, englobando menos de 30 medicamentos no mercado. (Mellin, et al, 1962). O que deve ser observado e se os beneficios obtidos a partir do uso do medicamento superam os possiveis riscos causados tanto a mae quanto ao feto e se realmente ha a necessidade do uso de determinado medicamento a durante a gravidez. Os efeitos nocivos sobre o feto dependem das caracteristicas do farmaco ou substância, da paciente, periodo gestacional e da frequencia utilizada. Na maioria dos medicamentos, o seu potencial teratogenico e desconhecido, o que pode acarretar alteracoes na fisiologia e na morfologia do feto, em maior ou menor complexidade. (Mengue, et al, 2001). E essas alteracoes ocorrem principalmente quando o medicamento com potencial teratogenico e utilizado ainda no primeiro trimestre de gestacao, a qual e o periodo de diferenciacao embriologica. Ja nos demais trimestres podem ocorrer alteracoes na fisiologia da gestante e no desenvolvimento do feto. Os estudos epidemiologicos estao sendo utilizados para proteger as maes e seus filhos de riscos necessarios, tendo em vista que nao ha como abster gestantes do uso de medicamentos, e por consequencia, a exposicao dos fetos aos riscos inerentes a uma terapia medicamentosa. (Carmo, 2004). A partir de varios estudos sobre o tema, foi possivel a classificacao dos medicamentos em categorias de risco para o uso na gestacao, facilitando na orientacao dos prescritores de quais medicamentos prescrever e, principalmente, quais medicamentos nao prescrever durante a gestacao. Com o proposito de orientar o prescritor na escolha terapeutica mais adequada para uma gestante, a agencia americana Food and Drug Administration (FDA) classificou os farmacos quanto aos efeitos na gestacao em categorias de risco A, B, C, D e X. Categoria A, foram incluidos os medicamentos que, em estudos controlados em gestantes, nao demonstram risco para o feto durante a gravidez. Categoria B, aqueles em que os estudos em animais nao demonstraram risco fetal, mas tambem nao existem estudos controlados em mulheres gravidas; ou aqueles cujos estudos em animais mostraram risco, nao confirmado em estudos controlados em gestantes. Categoria C, aqueles em que nao foram realizados estudos em animais ou mulheres gravidas; ou entao, os estudos em animais demonstram risco fetal, mas nao existem estudos disponiveis realizados em mulheres gravidas. Categoria D, aqueles com evidencias positivas de risco fetal humano, porem os beneficios potenciais para a mulher gravida podem, eventualmente, justificar seu risco. Categoria X inclui os medicamentos contraindicados na gestacao, pois estudos em animais e em mulheres gravidas demonstraram clara evidencia de risco fetal. O risco para o feto supera qualquer beneficio possivel para a gestante. Metodologia: Foi realizado um estudo retrospectivo sobre o padrao de prescricao de medicamentos de gestante, os dados foram obtidos de prontuarios de gestantes cadastradas no Programa de Humanizacao no Pre-Natal e Nascimento (PHPN) de uma Unidade Basica de Saude, no municipio de Cascavel-PR, durante o periodo de janeiro de 2010 a maio de 2011. Os dados observados foram relacionados a idade gestacional e os medicamentos prescritos e foram classificados ate o segundo nivel da classificacao Anatomical Therapeutic, Chemical (ATC) e quanto risco pela Federal Drugs and Foods Administration (FDA). Resultados: Das 61 gestantes cadastradas, a idade variou entre 13 e 43 anos, com media de 24,3 anos, com maior ocorrencia (37%) entre 19-24 anos. Destacam-se como as enfermidades mais frequentes as ligadas ao sistema geniturinario (34%), sistema nervoso (32%) e sistema digestorio (16%). A media de prescricao foi de tres medicamentos por gestante, de um total de 170 prescricoes, sendo que 65% foram prescritos no primeiro e 27% no segundo semestre de gestacao, destacando-se os anti-infecciosos (16%), dentre eles a cefalexina e antiespasmodicos (15%). Em relacao ao risco, segundo a FDA, 35% pertenciam a categoria B e 23% a categoria C, somente 12 % na categoria A, a qual nao oferece risco ao feto. A associacao butilbrometo de escopolamina/dipirona sodica foi prescrita a 12 pacientes, a dipirona atravessa a barreira placentaria e pode causar danos ao feto durante o primeiro trimestre gestacional, assim o seu uso deve ser restrito e substituido quando necessario pelo paracetamol que e o analgesico eleito para uso durante a gravidez. (Mengue, et al, 2001). De acordo com a classificacao da ATC, 16% dos medicamentos utilizados pertenciam a classe J01 (anti-infecciosos sistemicos); 15% a classe A03 (antiespasmodicos e anticolinergicos); 13% a classe N02 (analgesicos) e tambem 13% a P01(antiprotozoarios). Conclusao: O uso racional de medicamentos e indispensavel para garantir a qualidade e eficacia de um tratamento medicamentoso. A utilizacao de medicamentos durante a gestacao deve ser analisada e acompanhada minuciosamente para diminuir os riscos e possiveis consequencias ao feto e a gestante. E de extrema importância que a equipe de profissionais da saude tenha conhecimento dos medicamentos usados na gestacao, bem como o conhecimento de seus efeitos adversos e correlacao com os periodos criticos da gestacao. Tais conhecimentos podem ser direcionados ao planejamento e intervencoes educativas dirigidas a gestantes e aos profissionais de saude e, desta forma, proporcionar maior seguranca quanto a utilizacao racional de medicamentos durante a gestacao. Referencias Bibliograficas: Mellin GW, Katzenstein M. The saga of Thalidomide (conclude): neuropathy to embryopathy, with case reports of congenital anomalies. N Eng J Med 1962; 267: 1238-44. Mengue SS, Schenkel EP, Duncan BB, Schmidt MI. Uso de medicamentos por gestantes em seis cidades brasileiras. Rev Saude Publica 2001; 35: 415-20. Carmo TA, Nitrini SMOO. Prescricoes de medicamentos para gestantes: um estudo farmacoepidemiologico. Caderno Saude Publica, Rio de Janeiro; 2004, 20(4): 1004 - 1013, jul-ago.
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