A PSICOLOGIA COMUNITÁRIA E O MOVIMENTO DE AUTOGESTÃO DE ALUNOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

2016 
Relatamos a experiencia de autogestao de um grupo de alunos da disciplina de Psicologia Comunitaria II, do Curso de Psicologia da Unisc. Durante a discussao do programa da disciplina, os alunos propuseram a alteracao de parte do conteudo programatico previsto, sugerindo estudar a situacao dos refugiados senegaleses e haitianos vindos ao nosso pais. A tematica dos refugiados foi aceita pelo grupo, iniciando uma busca por historias de vida de senegaleses e haitianos residentes na regiao dos Vales do Rio Pardo e Taquari. Nesse momento, a turma subverte a forma como convencionalmente ocorrem os processos de ensino e passa a constituir uma trajetoria protagonista e implicada com a construcao compartilhada do conhecimento. Perguntavamos: como esses estrangeiros sao acolhidos? Em quais condicoes vivem? Nesse processo, compreendemos as diferencas juridicas e politicas entre refugiados e imigrantes. No caso dos haitianos e senegaleses, eles chegam ao Brasil como imigrantes, o que os priva do amparo politico concedido aos refugiados pelo Estado. Com o objetivo de identificar instituicoes e orgaos comprometidos com os imigrantes, os alunos visitaram Secretarias de Desenvolvimento Social, Centros de Referencia em Assistencia Social (CRAS), Universidades, escolas e Igrejas. Entendemos que os haitianos chegam aos Vales do Rio Pardo, Taquari e regioes vizinhas em busca de emprego e de condicoes dignas de vida. Em Lajeado, identificamos acoes em desenvolvimento, como um curso de portugues para estrangeiros e a contratacao de um haitiano no CRAS, para acolhimento de outros imigrantes. A metodologia baseou-se em discussoes coletivas e democraticas, marcadas pela autonomia dos academicos, os quais colocaram em curso o que pressupoe a Psicologia Comunitaria. Com a discussao das acoes em grupo, identificamos uma familia de haitianos, cuja necessidade de trazer os dois filhos menores deixados com a avo no Haiti mobilizou a turma. O casal e o filho mais velho vivem e trabalham no Brasil ha cinco anos. Como resultados, citamos a realizacao de uma reuniao aberta para discutir mecanismos institucionais de apoio aos imigrantes e a essa familia, de modo especifico, com a participacao de representantes da comunidade academica e setores como saude, assistencia social, movimentos sociais, poder legislativo, imprensa, entre outros. Diante da inexistencia de formas de amparo institucionalizadas aos imigrantes com filhos no pais de origem, foi desencadeado um movimento de levantamento de fundos para trazer os filhos do casal para o Brasil. Como consideracoes finais, entendemos que o processo de mobilizacao e organizacao dos alunos esta em consonância com os principios mais radicais da Psicologia Comunitaria, no que tange a autonomia e a autogestao. No entanto, uma das acoes empreendidas, nomeadamente a arrecadacao de fundos, pode ser entendida como uma acao assistencialista. Esta discussao e pertinente, pois traz a tona a problematizacao sobre o modo como a critica ao assistencialismo, tao necessaria em momentos anteriores, pode hoje colocar-se a servico de praticas que reforcam o individualismo e a insensibilidade frente aqueles que peregrinam pelo mundo ante a impossibilidade de permanecerem em seus paises de origem. Questionamos: qual seria a dimensao atual entre assistencia e solidariedade? Ate onde a Psicologia comunitaria deve se envolver com as questoes apresentadas? Ate que ponto o medo de incorrer em assistencialismo nos deixa de bracos cruzados sem nada fazer?
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