Ativando redes: a Vigilância Epidemiológica e o uso de novas tecnologias e mídias sociais no combate à Tuberculose, Recife-PE.

2018 
Apresentacao: A tuberculose continua sendo um dos principais problemas de Saude Publica do Brasil e do Mundo. Dados divulgados pelo Ministerio da Saude colocam o Recife como a capital do Brasil com o maior coeficiente de mortalidade. Apesar de ser uma das doencas mais antigas de que se tem conhecimento no mundo, mesmo com diagnostico e tratamento garantidos pelo Sistema Unico de Saude (SUS), a tuberculose continua sendo uma doenca endemica em nossa regiao. Muitas sao as causas apontadas para justificar a situacao. O objetivo deste relato e descrever o processo de trabalho da Vigilância Epidemiologica do Distrito Sanitario I da Secretaria de Saude do Recife desde a construcao de material educativo ao uso de novas tecnologias para articulacao de equipamentos sociais e ativacao de redes no controle da Tuberculose. Desenvolvimento: A experiencia aconteceu no territorio do Distrito Sanitario I, que faz parte da Secretaria de Saude municipal e abrange os bairros do centro do Recife e pode ser dividida em tres etapas. A primeira de producao e analise dos dados epidemiologicos. A segunda de criacao de instrumento de intervencao. A terceira de aplicacao e distribuicao da estrategia escolhida. O tempo de duracao ao qual se refere esse relato e de janeiro de 2016 a agosto de 2017. Primeira etapa: construcao e analise dos dados epidemiologicos. Mensalmente, como rotina de trabalho, aconteceu uma reuniao coordenada pela assessora do SANAR Recife (Programa estadual e municipal de enfrentamento as doencas negligenciadas)  onde participaram representantes da Vigilância Epidemiologica, Gerencia de Territorio, Coordenacao de Tuberculose, residentes de Saude Coletiva, Gerencia Distrital. Durante esta reuniao, discute-se caso a caso a coorte de pacientes diagnosticados com a doenca nos ultimos seis meses, alem de discutir indicadores e estrategias de intervencao. Os indicadores utilizados sao aqueles preconizados pelo Ministerio da Saude para analise da tuberculose. A reuniao e considerada o apice de um processo de busca de informacao e limpeza do banco de dados. Alem do instrumentos tradicionais, como o uso do boletim de acompanhamento que sao enviados mensalmente para as unidades, impressos em papel e telefone, comecou-se a usar o aplicativo de whatsApp para corrigir, buscar informacao, marcar as reunioes e organizar intervencoes no territorio. Para isso foi construido um grupo do “SANAR” com os participantes do grupo de trabalho. Durante a analise e discussao dos indicadores em fevereiro de 2016, observou-se uma area critica no territorio de Distrito Sanitario I com peculiaridades locais. Alguns bairros do DSI nao possuem cobertura da Estrategia Saude da Familia. Os pacientes dessa area tem como referencia a Policlinica Gouveia de Barros. Entretanto, analisando os indicadores da unidade, observou-se que esta possuia o menor percentual de contatos examinados. Somando-se a isto, a distribuicao dos obitos por tuberculose por bairro do DS mostraram uma concentracao nos Bairros da Boa Vista e Sao Jose. A discussao minuciosa dos casos e a investigacao pela Vigilância Epidemiologica evidenciou uma realidade distinta dos outros bairros vizinhos. Muitos dos obitos nesta localidade, nesse periodo de analise, ocorreu em pessoas de classe media que viviam nos predios e que morreram com o agravo sem nunca terem sido identificados ou fazerem tratamento para a doenca. Este foi o cenario encontrado. Segunda etapa: criacao de um instrumento de intervencao. Diante das caracteristicas dos obitos, da necessidade de identificar novos casos e analisar contatos, decidiu-se priorizar essa area para estrategia de Educacao em Saude. Para isso, optou-se em construir um cartaz com dados da realidade local e informacoes sobre unidades de referencia para tratamento. O cartaz foi uma producao coletiva, com construcao do conteudo liderada pela Vigilância Epidemiologica e depois foi aprovado no GT SANAR. Mais uma vez, ressaltamos o uso do aplicativo WhatsApp para mobilizacao do grupo de trabalho e resolucao da atividade.  Como informacoes relevantes, foram escolhidos os obitos sem diagnostico anterior da doenca, o fato de que todo contato de alguem que tem ou teve a doenca precisa de tratamento, o telefone da Vigilância Epidemiologica se disponibilizando para esclarecimentos e palestras, e o nome, enderecos e telefones das unidades do DSI. Alem disso, foram utilizados as # (hashtag) divulgadas pelo Ministerio da Saude nas midias sociais: #TBtemCura, #FimdaTB, #TestarTratarVencer. O material construido precisou passar pelo setor de Departamento de Comunicacao Social, Criacao – Publicidade e Propaganda da Prefeitura do Recife para ajustes e liberacao de uso. Esse processo durou cerca de 7 meses. Terceira etapa: divulgacao das informacoes. O cartaz aprovado pelo departamento de Comunicacao Social foi disponibilizado via e-mail em PDF. Nesse formato, ele pode ser facilmente distribuidos em grupos de WhatsApp e utilizados nas midias sociais. Com esse material servindo como instrumento de informacao, procurou-se alguns dos equipamentos sociais da regiao. No contato, alem de falar da problematica na area, pediu-se endereco de e-mail e numero de WhatsApp para repassar o material. Dentre estes equipamentos, foram contactados: ONG Gestos, Centro de Referencia Municipal GLBT, Cristolândia, Secretaria da Fazenda de Pernambuco, Lar Sacerdotal do Recife, alem dos predios da Boa Vista e Sao Jose onde ocorreram os obitos. O Centro de Saude LGBT publicou em sua pagina do Facebook e relatou divulgacao nos diversos grupos sociais que participa. Para finalizar, e importante ressaltar que essas intervencoes da Vigilância Epidemiologica ocorrem em paralelo as Acoes de Saude planejadas e coordenadas pela Atencao a Saude e Coordenacao de Tuberculose distrital no territorio. Em tais acoes acontecem exames de baciloscopia para busca de casos novos. Resultados: A construcao do cartaz pela Vigilância Epidemiologica local e a distribuicao do mesmo por WhatsApp sao os principais elementos de inovacao desta experiencia. Levando em consideracao o Sistema de Saude, quanto mais proximo do territorio sao realizadas as analises e elaborados os processos de intervencao, mais facil construir algo que se adeque a realidade local e especifica. O cartaz em formato eletronico e o uso de midias sociais facilitam a rapidez da distribuicao da informacao e o alcance do maior publico possivel. Para garantir que a informacao chegue no publico desejado, nao basta somente as redes sociais, por isso a parceria com as instituicoes escolhidas estrategicamente no territorio, como o Centro de Referencia LGBT, visto a correlacao tuberculose/AIDS e a Cristolândia, que trabalha com pessoas em situacao de rua. Consideracoes finais:  A experiencia descrita aponta que o uso de novas tecnologias e as midias sociais, principalmente voltadas para as especificidades do territorio, podem ser facilitadores no processo de construcao e potencializacao de diversos tipos de redes de cuidado, tanto intra como intersetoriais. Por um lado, facilitando o processo de comunicacao em equipe e tomada de decisoes e por outro, como ferramenta para articulacao dos diversos equipamentos sociais.
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