Seminário internacional "Financeirização e estudos urbanos

2018 
A producao do espaco urbano se alterou profundamente nos ultimos trinta anos diante da implementacao de agendas neoliberais de desenvolvimento economico e de politicas publicas e do aumento da importância dos circuitos transnacionais das financas. Nesse processo, o setor imobiliario ganhou relevância na transformacao estrutural do capitalismo contemporâneo, reconhecida por autores de diversos campos do conhecimento, como financeirizacao. De modo geral, a financeirizacao vem sendo tratada por tres abordagens principais na literatura internacional: como regime de acumulacao de capital; como logicas e praticas de corporacoes pautadas pelo valor do acionista (shareholder value, “financeirizacao das corporacoes”); e como praticas das familias (“financeirizacao do cotidiano”) (Van de Zwan, 2014; Aalbers, 2016). Mais especificamente, em relacao aos estudos urbanos, a financeirizacao vem sendo estudada por quatro escolas principais: economia do mercado imobiliario, infraestrutura urbana, politicas publicas e habitacao (Attuyer e Halbert, 2016). Em comum, esses estudos revelam que a cidade nao e mais somente financiada e produzida por atores urbanos historicos, tais como, proprietarios, incorporadores, construtoras, Estado, bancos e, muitas vezes, habitantes (Lorrain, 2011). Uma das maiores transformacoes esta relacionada ao aumento progressivo do papel dos investidores financeiros na elaboracao de grandes projetos urbanos e nos empreendimentos imobiliarios. Mesmo em relacao aos atores historicos, e possivel notar adaptacoes e alteracoes em suas logicas e praticas dentro desse contexto financeirizado, sejam eles privados (como no caso, os incorporadores – Coulondre, 2016) ou publicos (por exemplo, governos locais - Weber, 2015). Aalbers (2016) destaca que a habitacao e um tema menos estudado no debate sobre financeirizacao, mas que vem ganhando destaque nos ultimos anos considerando o contexto pos-crise subprime e os trabalhos sobre financiamentos e securitizacao de hipotecas, ao planejamento urbano, as residencias privadas aliadas a servicos especificos e as politicas de subsidio. Paralelamente a esse debate europeu, a literatura latino-americana tambem vem se dedicando a analise sobre a heterogeneidade nas formas de producao e de consumo da urbanizacao na regiao (Pirez, 2016). A intensificacao da producao imobiliaria e a expansao dos investimentos em infraestrutura nos paises da America Latina, alem de reforcarem a importância dessas atividades para a compreensao das mudancas urbanas e territoriais mais amplas, tem indicado uma crescente articulacao entre os ramos e setores, impondo novos desafios para a compreensao da producao do espaco urbano, com crescente associacao de agentes publicos e privados, que ora combatem a desigualdade – que no caso latino-americano, e estrutural - ora procuram se beneficiar. Neste sentido, ha estudos que procuram associar ciclos imobiliarios e crises economicas (Daher, 2013; Socollof, 2015), valorizacao imobiliaria e metamorfose urbana (Mattos, 2016), Estado e agentes privados na producao e na gestao de infraestrutura urbana (Conolly, 2015; Catenazzi, 2013). No Brasil, o forte aumento do setor imobiliario suportado tanto pelo movimento importante de abertura de capital de grandes incorporadores e construtores quanto pela politica habitacional e demais mecanismos institucionais de dinamizacao do setor, alimentou um campo academico que vem se mobilizando recentemente. De um lado, ha pesquisas sobre a aproximacao entre setor imobiliario e financa, enfatizando a circulacao de capitais e os efeitos territoriais das atividades imobiliarias (Fix, 2011; Sanfelici, 2013; Hoyler, 2014; Rufino, 2017). De outro, a construcao da habitacao e as estrategias das grandes empresas desde o canteiro de obras vem ganhando destaque como objeto primordial de analise (Moura, 2011; Shimbo, 2012; Baravelli, 2017). Alem disso, ha os trabalhos que vao explicitar a financeirizacao da producao urbana (Sanfelici e Halbert, 2015; Rolnik, 2015) e da politica da habitacao (Royer, 2014). Se a questao da financeirizacao da producao urbana esta bastante consolidada no debate europeu, a identificacao das convergencias e dissonâncias entre os estudos latino-americanos e entre eles e o debate internacional ainda precisa ser discutida e amadurecida. Afinal, trata-se de uma reestruturacao capitalista e de reconfiguracao de cidades em nivel mundial. Neste sentido, este Seminario procura cruzar os olhares europeus e latino-americanos sobre as alteracoes estruturais ocorridas no setor imobiliario e de infraestrutura urbana desde os anos 1970. Busca, dessa forma, apresentar trabalhos que vem se destacando nos estudos urbanos e discutir sua articulacao com as tendencias que se fazem presentes no debate sobre a financerizacao, em dois eixos: i) Circuitos de capital, atores e conflitos na reconfiguracao das cidades e ii) Estado, promocao imobiliaria e valorizacao financeira. Em termos metodologicos, este Seminario se organiza em dois momentos. O primeiro ocorrera no periodo da manha e se organiza em conferencias de convidados internacionais, seguidas de mesas redondas com pesquisadores nacionais e internacionais, que sao referencias no debate contemporâneo nos estudos urbanos e financeirizacao. O periodo da manha sera finalizado por um debate, procurando garantir uma articulacao com as questoes aqui propostas. O segundo momento sera composto de tres Grupos de Trabalho, em que o Comite Cientifico escolhera 15 trabalhos sobre o tema do evento, procurando identificar pesquisas realizadas e em andamento e aumentar a interlocucao academica entre jovens pesquisadores da area. Ao final, havera uma conferencia de encerramento seguida de uma discussao geral, com mediacao da Comissao Coordenadora, que buscara sintetizar as questoes apresentadas e discutir agendas futuras de pesquisa. Os anais estao disponiveis no link: http://www.iau.usp.br/seminariofinanceirizacao/index.php/anais/
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