O CASAMENTO, SOB A ÓTICA DA FIGURA FEMININA, NA CONTÍSTICA DE SONIA COUTINHO

2019 
As narrativas acompanham a humanidade sejam elas orais ou escritas. Alem de contar historias, ocupam a funcao de transmissao de concepcoes de mundo, experiencias individuais e coletivas. Narrar e, tambem, assumir um ponto de vista para enunciar a historia. A historia nos e transmitida a partir de perspectivas e, durante muito tempo, foi predominante e, muitas vezes, unica, a perspectiva a partir da qual se falou sobre temas do universo feminino. Reconhecendo a necessidade de analisar outras perspectivas, analisamos, neste trabalho, obras da escritora baiana Sonia Coutinho a fim de compreender como se estabelece o discurso sobre o casamento pelas personagens presentes nos contos. A literatura de autoria feminina e, sobretudo, um caminho importante para problematizarmos as representacoes ou nao representacoes da mulher no âmbito literario e, de acordo com Luiza Lobo (2000), e um caminho pelo qual perpassa o discurso de “alteridade”: Na literatura de autoria feminina, como na literatura de autoria negra ou africana, percebe-se a existencia de um discurso de alteridade politico, na medida em que seus representantes se assumam e se declarem como tal, isto e, [...] como parte de uma etnia nao prestigiada ou como mulheres. A literatura de autoria feminina se constitui naquelas obras em que a literatura se exerce como tomada de consciencia de seu papel social. (LOBO, 2000, p.3) E pertinente que nao desvinculemos da narrativa o discurso, pois como nos diz Gerard Gennete (1995), narrativa e discurso estao interligados: “Historia e narracao so existem para nos, pois, por intermedio da narrativa. Enquanto narrativo, vive da sua relacao com a historia que conta; enquanto discurso, vive da sua relacao com a narracao que o profere” (GENNETE, 1995, p.47). Nesta pesquisa, tivemos como objetivo investigar o discurso das personagens e como este se articula com os debates sobre genero e identidade. A escolha do tema casamento se da pela necessidade de rediscutir o papel de esposa, atribuido, ao decorrer da historia, as mulheres. De acordo com Georges Duby (1989), no periodo medieval, as mulheres, primeiramente, dentro de um sistema de vigilância familiar controlada pela figura do pai, sao direcionadas a outra familia. Apos essa etapa, passam a ser vistas como garantia da sucessao familiar atraves do casamento, dessa forma, o fato de ser mulher as condiciona a um destino detalhadamente planejado e com finalidades, primordialmente, financeiras. Casar tornava-se sinonimo de protecao e estabilidade. Nao so o papel de esposa as acompanha, mas tambem o de mae e quando esses papeis nao eram desempenhados satisfatoriamente, sobre elas recaiam as criticas. Esta ideia persiste no imaginario e se faz presente inclusive na producao literaria. As lutas do movimento feminista vem para tentar desestabilizar as imagens negativas que foram construidas, historica e socialmente, para as mulheres. A literatura de autoria feminina, segundo Luiza Lobo (2000), cumpre ainda mais o seu papel quando traz a tona outras vivencias diferentes das convencionais para a mulher. As analises feitas da contistica de Sonia Coutinho nos permitem visualizar uma nova configuracao de escrita e de perfil de mulher que se delineiam a partir das decadas de 60 e 70. Entendemos que as narrativas comportam uma multiplicidade de vozes e de identidades e, de certa forma, sao representativas do sujeito moderno.
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