A TRADUÇÃO NO REGISTRO DO EQUÍVOCO

2014 
Como falar de traducao considerando a descoberta freudiana do inconsciente e a existencia da psicanalise? Eis uma questao que exige, antes da tentativa de elaboracao de qualquer resposta, que se tirem dela consequencias teoricas, praticas e eticas para os estudos de traducao. A premissa geral afirmada na proposicao “toda traducao e imperfeita” (seja qual for o ideal de perfeicao) permite que se tome a nocao de intraduzibilidade como negacao da traduzibilidade, ou ponto de vacilacao de certa estabilidade do significado na passagem entre linguas. A proposta deste trabalho e fazer valer esse intraduzivel no registro do equivoco como ato, como uma “formacao da traducao” (do mesmo modo que se diz em psicanalise, a partir de Freud e de Lacan, “formacao do inconsciente”). Entende-se aqui o equivoco como nascido do (des)encontro das linguas no instante em que se traduz, e que nao se pode interpretar no registro da compreensao como um sentido, porque se revela opaco em ambas as linguas. Este trabalho assume ainda essa traducao como um tipo de laco social que encena o desejo do tradutor, dado que, fora das trilhas da ciencia linguistica, nao toma as linguas como objetos externos aos falantes. Ha na tarefa do tradutor um saber inconsciente nao sustentado por um eu que sabe/compreende, e traduzir (com) psicanalise obriga-o a acatar em sua pratica esse saber que nao pode ignorar e ao qual escolhe eticamente se submeter, para assim, quem sabe, fazer de seu trabalho uma traducao relevante.
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