A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO HOSPITALAR INFLUENCIANDO O MODO OPERATÓRIO DO ENFERMEIRO

2007 
O objeto desse estudo e a influencia da organizacao do trabalho hospitalar no modo operatorio dos enfermeiros. Este objeto emergiu a partir da tese de doutorado intitulada “Dimensao Subjetiva das Enfermeiras Frente a Organizacao e ao Processo de Trabalho em um Hospital Universitario” defendida na Escola de Enfermagem Anna Nery em dezembro de 2003. O modo operatorio e a forma como o trabalhador executa seu trabalho, ou seja, e o modo caracteristico que ele imprime para dar conta da tarefa. O modo operatorio sofre influencias de varios fatores, entre eles: os mecanismos de exploracao perceptiva, de processamento das informacoes e das capacidades psico-cognitiva e motora do trabalhador. Somado a esses, o modo operatorio tambem pode alterar mediante as condicoes de trabalho, as formas de gestao e aspectos inerentes a organizacao do trabalho. A organizacao do trabalho perpassa pela divisao das tarefas assim como pela divisao dos homens. Atraves da divisao das tarefas se prescrevem as cadencias, as reparticoes de atividades e acoes, a partir dai, surgem as hierarquias, os comandos, as relacoes de poder, as responsabilidades, caracterizando-se entao, a divisao dos homens. O trabalho hospitalar localiza-se no setor terciario da economia, de prestacao de servico. Seu grande objetivo e tratar pessoas doentes, internadas ou nao. Para que a instituicao hospitalar consiga atingir esse objetivo, e necessario que se conjugue nesse espaco uma serie de profissionais a fim de dar conta da complexidade do ser humano ali assistido. Logo, o trabalho hospitalar precisa desenvolver-se de forma coletiva, integrando a diversidade de formacao dos profissionais de saude. Ele e essencial a vida humana, encontra-se na esfera da producao nao-material, a qual se finda no momento de sua realizacao. O produto e indissociavel do processo que o produz, e a propria realizacao da atividade. Nao ha um produto final. Agudelo enfatiza que, nesse tipo de trabalho, a producao e o consumo se dao ao mesmo tempo, ou seja, no momento em que se produz um servico para melhorar as condicoes de saude do cliente, ele e imediatamente consumido. A assistencia a saude em unidades hospitalares pode assumir diversas formas: a realizacao de uma consulta; uma cirurgia; um exame-diagnostico; a administracao de medicacao; acoes preventivas, individuais ou coletivas; acoes de cuidado; orientacoes nutricionais, entre outras. Desenvolve-se a partir da avaliacao de um individuo ou grupo, seguida da indicacao e/ou realizacao de uma conduta terapeutica. A fim de conseguirem responder a multiplicidade de acoes, de procedimentos e de profissionais envolvidos neste contexto, as instituicoes hospitalares incorporaram tecnologias administrativas e empresariais para melhor planejarem investimentos e minimizarem custos, garantindo, assim, maior eficiencia e resolutividade. Esse cenario tornou-se lugar de sofisticacao tecnologica, incluindo varios processos de trabalho com o fito de acompanharem tamanha diversidade. De acordo com as analises de Barbosa, o hospital possui uma organizacao do trabalho extremamente complexa, exigindo, para sua conducao eficiente, aportes de conhecimentos, metodos, tecnicas e instrumentos que estejam condizentes com as praticas gerenciais mais avancadas, desenvolvidas em qualquer outra organizacao social de ponta. Segundo Agudelo, o processo de trabalho hospitalar caracteriza-se como pesado, intenso e com extensa jornada, inclusive com trabalho diuturno, tornando-se exaustivo. Assim, verifica-se que o trabalho hospitalar traz uma problematica complexa, haja vista a multiplicidade de determinantes que o tornam peculiar: a diversidade de categorias profissionais e seus processos de trabalho que muitas vezes se sobrepoem; a incorporacao de tecnologia de ponta impelindo os profissionais a capacitacao ininterrupta; a caracteristica do trabalho, por lidar com a dor, o sofrimento e a morte; e tambem se podem destacar as relacoes de poder, que sao extremamente tensas por forca do carater hegemonico milenarmente dominante da categoria medica sob as outras profissoes da saude. Devido a tais caracteristicas, a organizacao do trabalho hospitalar tem uma natureza complexa e ambigua, fragmentada e pouco racional. A partir dessa contextualizacao envolvendo o objeto de estudo, elaboram-se os seguintes objetivos: identificar fatores ligados a organizacao do trabalho que influenciam o modo operatorio dos enfermeiros e analisar a influencia que a organizacao do trabalho hospitalar exerce sobre o modo operatorio dos enfermeiros. Pesquisa com abordagem qualitativa e descritiva, na qual as informacoes foram coletadas com 25 enfermeiros que trabalhavam em clinicas medicas e cirurgicas de um Hospital Universitario do Rio de Janeiro. Utilizou-se a tecnica de entrevista semi-estruturada para a coleta de informacoes. O metodo de analise das entrevistas foi o da hemeneutica-dialetica, que e descrita por Minayo como um metodo que realiza uma reflexao fundamental, um “caminho do pensamento”, que tem como norte nao se distanciar da praxis social, aprofundando-se na conjuntura historica, social, economica e politica, buscando uma certa visao de conjunto, a totalidade significativa que ajuda a compreender o fenomeno investigado. Apos a aplicacao do referido metodo, emergiram as seguintes categorias: organizacao laboral e suas determinantes que influenciam no modo operatorio do enfermeiro e a configuracao do modo operatorio dos enfermeiros. O quantitativo de materiais e equipamentos e a qualidade dos mesmos referem-se a importante parcela no processo de trabalho e que interferem no bom desenvolvimento do trabalho de enfermagem. Depende-se deles para que a assistencia ocorra no tempo certo e da maneira preconizada. A deficiencia qualitativa e quantitativa desses instrumentais de trabalho leva o enfermeiro a improvisar e a adaptar materiais a fim de atender as necessidades mais urgentes dos clientes, e isso gera serias repercussoes no modo operatorio dessas profissionais. A estrutura organizacional dos hospitais publicos revela uma carencia de pessoal e, devido a essa insuficiencia de recurso humano, os enfermeiros constantemente executam atividades que nao sao de sua competencia. Atividades inerentes ao agente administrativo, ao auxiliar de enfermagem, ao auxiliar de servicos gerais, enfim, desenvolvem acoes de muitos e as consequencias disso e que o enfermeiro se sobrecarrega, absorvendo, alem se suas atribuicoes e assim, verifica-se um ritmo de trabalho elevadissimo. O grande volume de trabalho e a multiplicidade de papeis e funcoes que os enfermeiros desenvolvem, inclusive, sem ter com quem repartir as responsabilidades e as atribuicoes impostas geram um distanciamento do seu objeto de trabalho e afastam o enfermeiro do planejamento da assistencia de enfermagem, do cliente, da supervisao dos cuidados prestados. Dessa forma, em decorrencia de tantas obrigacoes e atribuicoes que o enfermeiro tem a desenvolver, conclui-se que e humanamente impossivel levar tais obrigacoes a cabo. Assim, verifica-se que esse profissional e impelido a privilegiar algumas atribuicoes em detrimento de outras e que, as vezes, as escolhas nao sao as mais adequadas, conduzindo-o a um distanciamento do seu objeto de trabalho e, por sua vez, do cliente, dai surgem o desgaste e o sentimento de inutilidade, o que incide sobre o modo operatorio do enfermeiro, e por sua vez, repercute na percepcao do sentido do trabalho, na subjetividade do mesmo e no processo saude-doenca dos clientes e do profissional de enfermagem. A condicao de saude da clientela caracterizou-se em outra determinante ligada a organizacao do trabalho hospitalar que incide de varias formas sobre o modo operatorio dos enfermeiros. A gravidade dos doentes, a imprevisibilidade no transcorrer do processo saude-doenca dos clientes sao fatores que alteram a rotina instituida para o dia de trabalho, visto que, se o cliente agrava, ha de se replanejar a assistencia, de se providenciar diferenciados materiais e equipamentos hospitalares, de se redistribuir a divisao de tarefas, pois, o volume de trabalho modifica-se, alterando tambem o ritmo laboral. A planta fisica tambem emergiu dos discursos como mais um determinante que incide sobre o modo operatorio dos enfermeiros, pois essa, muitas vezes, nao oferece condicoes de trabalho, no sentido de serem mal planejadas, de faltar o minimo indispensavel para uma unidade assistencial de saude, por exemplo: espaco para expurgo do material contaminado, pias em quantidade adequada para as demandadas do trabalho assistencial, postos de enfermagem mal localizados, entre outros. Portanto, a estrutura fisica das unidades de internacao nao atende as demandam desse tipo de trabalho, alterando o modo operatorio do enfermeiro. Ao final da pesquisa verificou-se que sao varias as determinantes ligadas a organizacao do trabalho hospitalar que atuam sobre o modo operatorio dos enfermeiros: a falta de pessoal e de material de consumo; a carencia qualitativa e quantitativa de equipamentos e de instrumentais; clientes graves, em situacao de imprevisibilidade; leitos amontoados; espacos fisicos obsoletos e inadequados. E como resultado de tantas determinantes influenciando na forma como o enfermeiro executa suas tarefas, constata-se um distanciamento do objeto de seu trabalho, uma certa alienacao quanto a dinâmica do trabalho devido ao ritmo intenso e o volume elevado de trabalho. Constatam-se tambem sentimentos que interferem negativamente na dimensao subjetiva como: irritabilidade, frustracao, angustia, entre outros que, por sua vez, interfere no modo como o cuidado e prestado. Sugere-se a elaboracao de outras pesquisas que estude a organizacao do trabalho hospitalar a fim de que se possa reunir subsidios teoricos para pensar e implementar uma organizacao laboral mais racional, flexivel e menos fragmentada.
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