A participação popular no SUS fortalecida pelas redes sociais da internet

2016 
APRESENTACAO: Solidariedade e resgate de autonomia sao algumas das palavras que podem descrever o que se ve e vive, relacionado a saude, em redes sociais online. Nestes ambientes, cidadaos trocam experiencias sobre suas questoes de saude, o que traz uma reflexao sobre a logica medica dominante, fortemente caracterizada por praticas autoritarias, ainda centradas na doenca e nao nos individuos e na coletividade. Considerando a necessidade de fortalecer os direitos da populacao no tocante a participacao social no SUS e a importância de ampliar a informacao e a reflexao das pessoas sobre questoes de saude a partir de seus proprios olhares sobre um problema, este trabalho busca discutir como a internet e, mais precisamente, as redes sociais na Internet, podem vir a ser espacos de empoderamento politico da populacao para a saude. METODOLOGIA: Para responder ao proposto, foi realizada uma revisao aleatoria da literatura que tratasse dos temas: internet, web 2.0, redes sociais, controle social e participacao social no SUS, politicas de saude. Concomitantemente, foram exploradas redes sociais da internet, como blogs e grupos do Facebook, a fim de verificar experiencias praticas que dialogassem com os achados teoricos, conforme apresentados a seguir. Apesar do desenvolvimento tecnologico e das tentativas de construcao de modelos de participacao popular para a saude, os paradigmas da pratica ainda recaem sobre estrategias que atinjam determinados objetivos, definidos por um dos polos da relacao, como os gestores, os pesquisadores, os profissionais de saude. Isto ocorre em funcao do tipo de abordagem adotada, fortemente marcada pela fala central especializada, autorizada por quem tem o poder de dizer e de interpelar os atores sociais e que procura ditar os modos como os cidadaos adoecem, morrem e cuidam da saude. Assim, as politicas de saude constantemente tornam-se verticalizadas e hospitalocentrica e, apesar dos pensamentos e atitudes contra hegemonicos, nao incorporam de fato a participacao da populacao nas discussoes sobre saude. A saude, para tentar superar este padrao, deveria ser entendida como uma dimensao da vida, como um bem maior individual e coletivo, conceitualmente construido e defendido por pessoas da comunidade, considerando seus contextos, suas experiencias e o seu ponto de vista. Toda esta logica e passivel de questionamento quando pensamos em gente conectada no ambiente online, atraves de redes sociais virtuais. RESULTADOS: Na internet, as redes sociais ganham potencia e uma nova dinâmica, uma vez que a possibilidade de conexao aumenta, fazendo com que os vinculos sociais se mantenham vivos e possam ser ativados muito facilmente, independente da distância fisica, geografica ou cultural entre as pessoas. Assim, as praticas tornam-se distribuidas, coletivas, colaborativas e emergentes, bem diferentes do modo como estavamos acostumados. Mas, nao raramente, observa-se que as instituicoes da area da saude, apesar de possuirem perfis na web e manifestarem em seu discurso a importância da horizontalidade na relacao com os usuarios e trabalhadores, demonstram, na pratica, que ainda ha uma lacuna no que tange ao aproveitamento da internet em toda a sua potencialidade, que de fato poderia trazer um novo panorama na informacao e participacao efetiva dos usuarios no cotidiano da atencao a saude e nos processos politicos de construcao do SUS. Uma rapida analise de perfis de blogs e paginas do Facebook de unidades basicas de saude da Secretaria Municipal de Saude do Rio de Janeiro (SMS-Rio), selecionadas aleatoriamente em meados de julho de 2015, corrobora esta afirmacao: o teor dos posts, no Facebook e nos blogs, era, basicamente, sobre eventos e atividades das unidades basica e da SMS-Rio, alem de algumas informacoes sobre saude e questoes de articulacao e reivindicacao de entidades de trabalhadores da saude. Do mesmo modo, os blogs tinham poucos e antigos posts, sem nenhum comentario de pessoas da comunidade. Isto mostra que a utilizacao das redes sociais da internet por instituicoes de saude ainda nao entendem estes espacos como locais de colaboracao entre cidadaos e profissionais de saude, nao sendo pensados como estimulos a interacao com a populacao e permitir que suas questoes sejam pautadas a partir de seus proprios saberes. Por outro lado, nao e dificil achar na internet redes de cidadaos, especialistas e nao especialistas, engajados em causas da saude com acoes que se mostram efetivas no enfrentamento de problemas ou, ao menos, no reconhecimento de uma causa e apoio pelo compartilhamento de vivencias. O que acontece e que a internet inverte e supera a logica atualmente predominante ao ampliar a possibilidade de participacao popular, impulsionando praticas colaborativas e criando mecanismos de inteligencia coletiva, que e justamente a inteligencia distribuida por toda parte, assim entendida, uma vez que ninguem sabe tudo mas juntos sabe-se alguma coisa. As comunidades virtuais aparecem justamente como o ambiente no qual as pessoas se unem pela afinidade de interesses, conhecimentos e projetos em um processo mutuo de cooperacao e troca.Neste cenario, as realidades sao construidas como processos emergentes, de cima para baixo, por meio de processos de sincronizacao que trazem consigo a validacao social. Os processos de emergencia na internet ocorrem quando componentes simples, como pessoas comuns, se unem para desenvolver um grau de inteligencia superior, por meio de acoes baseadas em regras simples que sao capazes de gerar estruturas complexas. Um exemplo disto e o intenso ativismo que a internet propiciou a partir da formacao de varios grupos online em defesa do parto natural e humanizado no Brasil. Estas redes funcionam nao so como espacos de informacao, ajuda e apoio, majoritariamente entre mulheres, como tambem sao um canal de articulacao entre gestantes e profissionais de saude, parteiras e doulas. Alem, e claro, de serem um local para organizacao de manifestacoes e de controle social na formulacao de politicas publicas em torno da humanizacao do pre-natal e  do parto. As redes sociais da internet potencializam a possibilidade da populacao enfrentar seus problemas e questoes de saude, produzindo conhecimento coletivamente. Uma parte aprende com a outra e ambas podem ser beneficiadas com isso (populacao e tecnicos). Por isso, estes ambientes aparecem como espacos de empoderamento politico, uma vez que ali as pessoas podem questionar-se sobre o modelo biomedico da medicina, a medicalizacao da vida, o reconhecimento da sabedoria popular, a saude como um ato de cuidado, a participacao e o controle social e refletir sobre o complexo da saude. CONSIDERACOES FINAIS: Para as instituicoes de saude, gestores e profissionais, fica a reflexao sobre a necessidade de incorporar as novas tecnologias da internet, aproveitando-se todos os seus recursos e, principalmente, incorporando sua logica, que tudo tem a ver com integralidade, universalidade, descentralizacao e participacao. Ademais, para aproximar a populacao do sistema de saude e necessario criar novos habitos culturais, que encurtem as distâncias de saberes e permitam a construcao coletiva de conhecimento em saude.
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []