Eu já perdi muita coisa, minha família principalmente : um estudo psicossocial sobre duas políticas de desinstitucionalização do adolescente.
2014
Este estudo buscou apreender os significados da desinstitucionalizacao do adolescente
que perpassam as politicas de Saude Mental e do Sistema Socioeducativo (SINASE) no
estado do Tocantins. A concepcao de desinstitucionalizacao do adolescente se embasa
nas propostas contidas nas duas politicas: Reforma Psiquiatrica (Lei 10.216, de 2001) e
SINASE (Lei 12.594, de 2012). Ambas tem como diretriz a garantia do convivio
familiar do adolescente, a internacao como ultima possibilidade interventiva e de carater
breve (excepcionalidade e brevidade da internacao). Paralelamente, essas duas politicas
tem como historia a consolidacao de medidas coercitivas, em que adolescentes autores
de ato infracional ou que tem necessidades de intervencoes em saude mental sao
retirados do convivio comunitario e familiar como estrategia de tratamento. Para este
estudo, fez-se o recorte da atencao a saude mental para a dependencia de drogas.
Portanto, o foco foi apreender quais sao os significados da desinstitucionalizacao do
adolescente autor de ato infracional ou que tem necessidades de saude em decorrencia
do uso de alcool e outras drogas que tem permeado a execucao da Reforma Psiquiatrica
e do SINASE no estado do Tocantins. Este estudo e de abordagem qualitativa, na
perspectiva da Teoria Socio-Historica, de Vigotski, fundamentada no materialismo
historico e dialetico. Participaram do estudo juizes; promotores publicos; defensora
publica; professores universitarios dos cursos de psicologia e de direito; profissionais
que atuam nas unidades do sistema socioeducativo e no Centro de Atencao Psicossocial
Alcool e Drogas (CAPSad); adolescentes privados de liberdade no sistema
socioeducativo e suas maes; adolescente em tratamento no CAPSad de Palmas,
Tocantins; e respectiva mae. Ao todo, participaram deste estudo 18 pessoas. Todas
foram entrevistadas individualmente, tendo um roteiro preestabelecido. Realizou-se
tambem pesquisa em documentos para subsidiar as analises (prontuarios dos
adolescentes, documentos oficiais das unidades em que os adolescentes estavam
vinculados). A analise das falas foi realizada a partir da sistematizacao das informacoes
em tres grupos: os Operadores do Direito, os Profissionais Executores (incluindo os
professores universitarios) e o Objeto da Lei (os adolescentes e suas maes). A partir dos
nucleos de significacao apreendidos, buscou-se compreender os significados que cada
participante (respeitando o lugar de onde as falas surgem) atribuiu a
desinstitucionalizacao proposta pelas duas politicas alvos deste estudo. Neste trabalho,
buscou-se defender a seguinte tese: os significados sao marcados pela intervencao
autoritaria do Estado sobre a condicao do adolescente pobre, reproduzindo as praticas
de institucionalizacao e pela invisibilidade social do adolescente pobre autor de ato
infracional ou que tem necessidades de saude em decorrencia do uso de crack, alcool e
outras drogas. Conclui-se que as duas politicas ainda nao estao consolidadas e que, em
funcao disso, as praticas ainda se estabelecem com base em modelos individuais e
personalistas de intervencao, nos quais ainda prevalece a logica de institucionalizacao
dos adolescentes pobres como estrategia de tratamento; e, paradoxalmente, o
distanciamento das familias e a impossibilidades delas se constituirem efetivos agentes
de mediacao no desenvolvimento dos adolescentes.
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