O desconcerto anarquista de John Cage

2017 
Em 1988, John Cage inventou Anarchy, livro em que, a partir de escritos experimentais, valorizou as vidas de mulheres e homens anarquistas que marcaram seu percurso etico-estetico libertario desde meados dos anos 1940 ate a decada de 1990, quando em seus ultimos trabalhos, “number pieces” (1987-1992), apresentou o que denominou “harmonia anarquica”. Foi a partir da coexistencia com artistas e militantes na Black Mountain College, no final da decada de 1940, assim como em Nova York com o The Living Theatre (TLT), que o artista ja conhecido por seu corajoso “piano preparado” passou a elaborar o anarquismo como pratica de vida. “4’33” (1952), acao direta contra a representacao musical dos sons e em favor da incorporacao dos ruidos excluidos pelas salas de concerto, irrompeu empolgada por essa aproximacao libertaria. Nas decadas seguintes, vivendo ao lado de artistas e anarquistas, afastado da cidade, em Stonypoint, iniciou a publicacao de how to improve the world (you only make matters worse) (1965-1982), diario mantido por mais de quinze anos e no qual apresentou a lida com os escritos de Henry David Thoreau, preocupacoes antimilitares e ecologicas. Apesar de quase ausente das biografias e estudos sobre o trabalho do artista, John Cage experimentou o anarquismo como o que Edson Passetti definiu heterotopias de percurso. Assim, para alem de Anarchy e de obras nitidamente antiautoritarias, o artista realizou a anarquia na maneira propria de levar adiante a existencia, fazendo da vida tambem uma invencao, afirmando um caminho outro, nocao valorizada pelos filosofos cinicos, segundo Michel Foucault, para diferenciar o traco de vidas escandalosas daquelas que reiteram convencoes e valores usuais. Foi este o caminho que esta tese acompanhou, estabelecendo reverberacoes de John Cage em atitudes anarquistas contemporâneas
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []