Gravidez na adolescência: do fenômeno social a possíveis intervenções

2017 
Introducao: a Unidade Basica de Saude, UBS, Ulisses Guimaraes, localizada na Rua Ferdinando Irineu Corra, 36 - Parque Vitoria Regia, Sorocaba – SP recebe os alunos da Faculdade de Ciencias Medicas e da Saude da PUC-SP, dentro das atividades de Praticas de Atencao a Saude. Ao longo do ano percebeu-se pelos alunos do segundo ano que a gravidez na adolescencia e uma preocupacao na regiao, especialmente na Escola Estadual Sarah Salvestro. Considerando que o municipio de Sorocaba segue ha anos sem diminuir sua taxa de mortalidade infantil, e sendo a gravidez na adolescencia um fator de risco, e de grande importância abordar esse problema. Diante disso, os alunos de medicina realizaram entrevistas com gestantes adolescentes e realizaram uma intervencao, atraves de palestras, na escola.  Objetivos: identificar os fatores de risco para gravidez na adolescencia, levando em conta suas vivencias e seu meio social. Realizar uma intervencao, baseada nos dados obtidos nas entrevistas, com o objetivo de diminuir a taxa de gravidez entre as adolescentes da area de abrangencia da UBS Ulisses Guimaraes.  Metodologia: para o grupo focal foram abordadas gravidas e maes jovens da escola estadual e aquelas que fazem acompanhamento na UBS. Foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e o Termo de Assentimento, que foram assinados. Dessa forma, foi acordado um dia e horario para realizacao do grupo. Cada grupo focal teve em media de uma hora e meia de discussao, que no caso, foi gravada para analise futura. As questoes abordadas no grupo focal foram: perfil das adolescentes, a vida sexual, a motivacao para a gravidez, as expectativas em relacao ao futuro, os sentimentos relacionados a gravidez atual. Tendo em vista a complexidade do assunto foram necessarios dois grupos focais. Relacionado ao questionario e a intervencao, foram beneficiados os estudantes do sexto e nono ano da escola. O desenvolvimento de intervencoes entre os alunos da escola foi baseado na analise dos dados obtidos atraves do grupo focal. Com base nessa analise, foi construido um questionario, enviado e respondido online pelos alunos da escola. Assim, foi montada uma intervencao com dinâmica de grupo e palestras para os mesmos alunos que responderam o questionario, em dia e horarios combinados com a direcao da escola. Resultados: o grupo focal foi realizado com 08 adolescentes, da area adstrita da UBS Ulisses Guimaraes em dois momentos. As participantes eram maes ou gestantes adolescentes, que apos serem esclarecidas assinaram o TCLE. Em relacao ao perfil das adolescentes, a idade variou entre 14 e 17 anos. Somente duas delas residem apenas com o esposo ou parceiro. Apenas uma delas trabalha, mas de maneira informal, e nenhuma delas tem participacao efetiva no orcamento familiar. De maneira geral, elas engravidaram logo no inicio da vida sexual, que ocorreu por volta dos 13 anos e era praticada sem protecao. Nao ha relatos de grande numero de parceiros. Desconhecimento sobre metodos contraceptivos no inicio da vida sexual aparece em praticamente todas as falas, sendo o uso do coito interrompido considerado um metodo de prevencao entre todas as gestantes. Tambem fica bastante evidente a ausencia ou pouca abordagem familiar e social do assunto. Aparece uma relacao proxima com as agentes de saude e assistentes da escola. Quando questionadas sobre o risco de doencas sexualmente transmissiveis, apareceram respostas, mostrando certa despreocupacao com as DSTs. Em relacao a motivacao para a gravidez, parece haver certa relacao da gravidez com funcao social, alem do relato de felicidade com relacao a gestacao entre todas. Questionadas sobre os planos que tinham para o futuro, as falas mostram certa ambiguidade entre a realidade e as expectativas, que parecem ainda possiveis de serem realizadas. Alguns dados foram obtidos a partir do questionario aplicado ao total de 210 alunos, cursando o 6o ano e o 9o ano do Ensino Fundamental da Escola Estadual Sarah Salvestro. Em relacao ao sexo e o ano que estavam cursando, 49% (103/210) da amostra eram do sexo feminino, sendo que destas 55,3% cursam o 6o ano do Ensino Fundamental e 43,7%, o 9o ano; os outros 51% (107/210) eram do sexo masculino, sendo que destes 59,8% cursam o 6o ano e 39,3%, o 9o ano.Com relacao a atividade sexual, 13,6% (14/103) das meninas disseram ja ter iniciado a vida sexual, 42,8% alegaram ter tido a primeira relacao sexual aos 14 anos. Quanto aos meninos, 14,9% (16/107) responderam “sim” para essa mesma questao. Desses 16 meninos, 31,3% alegaram ter tido a primeira relacao sexual aos 12 anos. Quanto a utilizacao de preservativos de barreira para as meninas ja sexualmente ativas, houve uma discrepância entre o numero de respostas totais (97) e o numero de alunas que alegaram ter tido relacoes sexuais (14). Acreditamos que foi um vies de entendimento das alunas ao responderem a pergunta. A correta analise dessa pergunta e: das 14 meninas sexualmente ativas, 8 utilizaram camisinha em pelo menos uma relacao sexual, correspondendo a 57,1%. O mesmo vies de entendimento ocorreu no questionario dos meninos. Apos correcoes da analise os resultados encontrados foram: 16 dos 105 meninos ja iniciaram a vida sexual, correspondendo a 15%. Dos 16 meninos que ja transaram, 11 utilizaram camisinha, correspondendo a 68,75%.Ao serem questionados sobre DSTs, 39,8% das meninas afirmaram nunca terem recebido algum tipo de ciencia sobre o assunto. Em contra partida, 52,3% dos meninos disseram nunca terem recebido informacoes sobre DSTs, o que indica a necessidade de maior enfoque em intervencoes e instrucao para os meninos. Outro dado preocupante foi a baixissima taxa de idas ao ginecologista. Ao responderem o questionario, 85,4% (88/103) declararam nunca terem ido a consulta ginecologica. Quando indagados sobre a idade que desejam engravidar, 52,4% (52/103) das meninas responderam que a idade ideal seria acima dos 24 anos. Comparando com o sexo masculino, 48,6% (52/107) alegaram o desejo a paternidade tambem acima dos 24 anos. A fim de conhecer quais seriam as condutas em relacao a uma gravidez indesejada nas respectivas idades atuais, 95,3% (102/107) dos meninos declararam nao incentivar a parceira a interrompe-la. O mesmo se aplica as meninas, em que 92,2% (95/103) negaram o desejo de uma possivel interrupcao da gravidez. Do aspecto familiar e profissional, quase a totalidade das meninas declarou morar com os pais (94,2%) e nao exercer nenhum tipo de profissao ou atividade rentavel (93,3%). O mesmo equivale para os meninos, sendo que 98,1% moram com os pais e 86,9% nao exercem qualquer tipo de profissao. Durante as palestras na escola, ficou bastante clara a relacao de desconhecimento sobre metodos contraceptivos, utilizacao e correto manuseio dos metodos de barreira e das DSTs. Principalmente durante as palestras para os alunos do 6o ano, foi visivel o desconhecimento de assuntos basicos, como menstruacao, a partir de quando uma mulher pode ficar gravida, os tipos de sexo e como as DSTs sao transmitidas. Nos 9os anos, os alunos ja possuiam mais conhecimento. Porem, em ambas as faixas etarias, o correto manuseio e a colocacao da camisinha eram desconhecidos. Ao ser apresentados a camisinha feminina, nenhum aluno demonstrou conhecimento sobre o metodo e como ele deve ser utilizado e colocado. As imagens sobre casos de DSTs geraram surpresa e aversao em todas as turmas. Os palestrantes enfocaram na importância de que meninas visitassem um ginecologista, mas que tambem meninos visitassem medicos da UBS caso tivessem alteracoes parecidas as apresentadas durante a palestra. Durante as palestras, o palestrante perguntava quantas das meninas ja haviam iniciado o esquema de doses contra o HPV disponivel na Unidade de Saude. Surpreendentemente, quase a totalidade das meninas ja havia tomado pelo menos uma das doses da vacina. Descobrimos que elas foram alvo de uma outra intervencao na qual, alunas com idade adequada ao calendario de vacinacao proposto pelo SUS foram levadas ate a UBS, onde foram aplicadas as vacinas.  Conclusoes: o grupo focal foi essencial para que os alunos de medicina entendessem as motivacoes das adolescentes gravidas, reconhecessem os fatores de risco envolvidos nesse processo, assim como suas implicacoes na vida dessas mulheres. As intervencoes realizadas pelo grupo podem ter contribuido como influencia para os alunos buscarem informacoes sobre sexualidade, sobre a gravidez na adolescencia e sobre DSTs, solidificando os conceitos ensinados. Este projeto tambem aumentou a proximidade os alunos do curso de medicina, a escola, e a equipe de saude da UBS, favorecendo a construcao de um projeto de intervencao mais amplo, visando aproximacao entre os adolescentes e a equipe de saude da regiao.
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