Identidade e inserção profissional do sanitarista: aproximações entre duas pesquisas acerca da Graduação em Saúde Coletiva/Pública

2016 
Atualmente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e na Faculdade de Saude Publica (FSP) da USP estao em producao duas pesquisas versando sobre a Graduacao em Saude Coletiva, sendo elas, uma Iniciacao Cientifica (IC) com o tema “Em busca da identidade profissional da graduacao em saude publica/saude coletiva: narrativas e reflexoes de sujeitos implicados” e uma Dissertacao de mestrado intitulada “Sanitaristas no SUS: quando os novos profissionais entram em cena”. Nesse sentido, resultado da integracao dos autores, temos como objetivo dar movimento acerca da producao intercessora do conhecimento sobre a identidade e insercao profissional do sanitarista produzida na UFRN e na USP. O campo da Saude Coletiva, historicamente, colocou no mercado de trabalho profissionais formados em pos-graduacao nas modalidades lato e stricto sensu. Ao inserirem-se profissionalmente esses pos-graduados ocupavam cargos de sanitaristas. A necessidade da profissionalizacao para o campo da Saude Coletiva fez surgir os Cursos de Graduacao em Saude Coletiva, que se expandem pelo pais em 2009 atraves do Programa REUNI. Os discursos para criacao destes cursos apontavam para a qualificacao de profissionais engajados com o Sistema Unico de Saude e que consolidassem a Reforma Sanitaria Brasileira. Enfatizavam que o SUS precisava de um graduado em Saude Coletiva, com perfil profissional que o qualificasse como um ator estrategico e com identidade especifica nao garantida por outras graduacoes disponiveis (BOSI, 2009; PAIM, 2009). Segundo Oliveira e Retour (2010) a insercao profissional como tema de pesquisa e relativamente recente e surge com multiplas interpretacoes para o momento da vida do individuo que busca representar: entrada na vida ativa, transicao profissional, transicao escola-trabalho, entre outros. Ainda, a identidade profissional Novoa (1997) nao e um dado adquirido, nao e uma propriedade, nao e um produto. A identidade e um lugar de lutas e conflitos, e um espaco de construcao de maneiras de ser e estar na profissao. Nesse cenario de insercao de um novo ator da saude identificamos poucos estudos que versavam sobre essa tematica. Assim objetivamos com a finalizacao da Iniciacao Cientifica e da Dissertacao cumprir os seguintes objetivos, respectivamente: identificar as percepcoes dos estudantes de Saude Publica sobre suas identidades profissionais, e analisar a insercao e atuacao profissional de egressos do curso de Gestao em Sistemas e Servicos de Saude da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vale ressaltar que apesar da nomenclatura, a graduacao da UFRN constroi-se formalmente com o Forum de Graduacao em Saude Coletiva da ABRASCO, ha o reconhecimento nacional quanto ao fato de esta graduacao pertencer ao campo da Saude Coletiva e esta em processo a mudanca no nome do curso para Bacharelado em Saude Coletiva, em tramitacao nos colegiados universitarios. Implicados com a graduacao, enquanto estudante e egresso desenvolvemos estudos com abordagem qualitativa de carater exploratorio inspirada no conceito de Merhy (2004), onde o sujeito militante coloca os sujeitos que estao na producao do Sistema Unico de Saude (SUS) e que investigam suas proprias praticas na producao de conhecimentos, tao implicados com a situacao que, ao interrogar o sentido das situacoes em foco, interrogam a si mesmos e a sua propria significacao enquanto sujeitos de todos esses processos. Ou seja, os sujeitos que interrogam sao ao mesmo tempo os que produzem o fenomeno em analise e, mais ainda, sao os que interrogam o sentido do fenomeno partindo do lugar de quem da sentido ao mesmo, e neste processo criam a propria significacao de si e do fenomeno. No tocante a dissertacao a producao da coleta dos dados acontece a partir da tecnica de Grupo Focal com egressos do curso e entrevistas individuais com tecnicos das instituicoes principais da gestao dos servicos de saude no Sistema Unico de Saude no municipio de Natal, capital do Rio Grande do Norte. No que se refere aos resultados obtidos na iniciacao cientifica, foi possivel verificar que a identidade profissional dos sanitaristas em formacao pela USP se da pela forma complexa, inseparavel da experiencia da duvida e da incerteza. Os estudantes da graduacao em saude publica a partir de suas trajetorias academicas, profissionais, experienciais e vividas na faculdade pensaram em abandonar o curso devido ao desinteresse/decepcao com a formacao, falta de informacoes sobre o mercado de trabalho e receio/medo frente a um curso novo. No entanto, os/as alunos/as que se aproximaram de atividades extracurriculares no cotidiano dos servicos de saude como o VER-SUS, PET-Saude e Estagio adquirem uma identidade sanitarista devido ao contato com a pratica profissional. Assim, a identidade profissional para Dubar (2000) e: “um fenomeno complexo, produto dos mecanismos de socializacao (...) do individuo e que apresenta continuidades e descontinuidades (...) sempre forjada num jogo de interacoes sociais onde o contexto organizacional, as caracteristicas biograficas do individuo e os seus percursos formativos desempenham um papel fundamental”. Ainda, as narrativas produzidas com estes mesmos alunos sobre as expectativas, razoes e motivos de cursar a graduacao, futuro profissional e genealogias com o curso apontam, segundo Merhy (2007) que nao ha nunca uma identidade individual ou coletiva, que fica para sempre no tempo em nos. Ela esta sempre em producao. Partindo de certo territorio, abrindo-se para outros possiveis. Produzindo mapas, desenhando cartografias. E para Bauman (2005), na modernidade liquida, ha uma infinidade de identidades a escolha, e outras ainda para serem inventadas. E Hall (2006) entende que uma identidade fixa e estavel, foi descentrado, resultando nas identidades abertas, contraditorias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pos-moderno. Alem disso, a identidade e a insercao do sanitarista e peripatetica (Lancetti, 2006) praticada em movimento talvez mais fluoxinaria e rizomatica, com seus processos de recomposicao intensiva sempre em andamentos e abertos a exterioridade centrada nos percursos, nas articulacoes com o fora, nas conexoes, nos planos de consistencia que se conquista. Por fim, entendemos que as duvidas quanto a construcao do campo da Saude Coletiva com a chegada dos novos profissionais, permanecem. Existem centenas de egressos atuando em todas as regioes do Brasil. E nesse contexto que surge a necessidade de discutir a profissionalizacao dos estudantes e egressos que estao na graduacao em saude coletiva/saude publica, monitorar os egressos que estao e/ou nao estao atuando no mercado de trabalho, acompanhar a regulamentacao da profissao e debater a identidade profissional. Desta forma os resultados, de ambas as pesquisas, poderao contribuir tanto para adequacoes na formacao quanto para elucidar questoes ainda nao exploradas e estudadas.
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