Influência dos perfis Th1/Th2 no espectro de gravidade da Tuberculose Pulmonar*: Influence of Th1/Th2 profiles in the spectrum of severity of Pulmonary Tuberculosis

1998 
RESUMO No contexto epidemiologico da tuberculose (TB) que presentemente assola o nosso pais destaca-se o numero progressivamente crescente de formas clinicas graves e que atingem individuos aparentemente imunocompetentes. Na tentativa de contribuir para o esclarecimento dos fenomenos que na intimidade do pulmao profundo comandam as perturbacoes patogenicas que ocorrem nestas situacoes, estudamos 35 doentes portadores de tuberculose pulmonar (TP), todos VIH negativos e sem toxicodependencia, divididos, logo na fase inicial, por dois Grupos (I e II) em funcao da expressao clinica da sua afeccao: • Grupo I, constituido por 15 doentes que exibiam formas limitadas e clinicamente meos graves, 13 do sexo masculino e 2 do feminino, com uma media de idades de 45.6 ± 18.2 anos. • Grupo II, formado por 20 pacientes atingidos por formas graves, com lesoes muito extensas, por vezes com bacilos resistentes, 14 homens e 6 mulheres, com uma media de idades de 32.8 ± 4.8 anos. A metodologia utilizada dirigiu-se a avaliacao da imunidade celular e humoral, tanto no pulmao profundo (LLBA), como no sangue periferico, atraves dos seguintes parâmetros: • Celularidade total e percentual do LLBA, com recurso a câmara de Neubauer e leitura por microscopia optica. • Contagem das populacoes e subpopulacoes linfocitarias CD3, CD19, CD4, CD8, γ/δ, CD16 CD56, CD4 + CD7 + (Th1), CD4 + CD7- (Th2), com anticorpos monoclonais e leitura por citometria de fluxo. • Determinacao dos niveis intracelulares das citocinas γ-INF e IL-4, por citometria de fluxo. • Doseamento sanguineo das Igs A, G e M, das fraccoes C3 e C4 do Complemento e da α-1-antitripsina, por nefelometria. • Avaliacao da autofluorescencia dos macrofagos alveolares, com contagens acima dos 10, 100 e 1000 canais, por citometria de fluxo. • Analise estatistica dos resultados atraves da variância, test t-student, medias e desvios padroes e correlacao linear. Dos resultados obtidos salienta-se: • Presenca de uma moderada alveolite, de predominio macrofagico, no Grupo I, e linfocitario, acompanhado de um ligeiro aumento do numero de polimorfonucleares neutrofilos, no Grupo II. • No pulmao profundo, as celulas T e a subpopulacao CD4 encontravam-se ligeiramente mais elevadas nas formas mais graves, enquanto que as subpopulacoes γ/δ e NK diminuiam com a gravidade da afeccao. • Predominio do fenotipo Th1 e de γ-INF nas areas lesadas das formas clinicamente mais moderadas e de Th2 e IL-4 nas mais graves. • No sangue periferico, os Th1 e a citocina γ-INF encontravam-se sempre em niveis mais elevados do que os Th2 e a IL-4, independentemente da gravidade da situacao. • A auto-fluorescencia dos macrofagos alveolares diminuia muito significativamente, de uma forma paralela a importância das lesoes. • As variacoes, sempre muito diminutas, da imunidade humoral, nao se mostraram relevantes no contexto de gravidade da TB. • O fenomeno da resistencia medicamentosa, abordado separadamente, nao condicionou desvios dos parâmetros analisados, quando comparado com os restantes individuos que integravam o Grupo II. Estes resultados sugerem as seguintes conclusoes: • A gravidade clinica da TP espraia-se ao longo de um espectro limitado por dois polos: um, caracterizado por um perfil Th1, com capacidade de promover a estimulacao da actividade microbicida do macrofago alveolar e que, por isso, confere resistencia orgânica a esta infeccao; outro, no qual predomina o perfil Th2, que por inibir funcionalmente o macrofago alveolar torna o organismo mais susceptivel a esta agressao micobacteriana. • Assim, aquilo que sob o ponto de vista imunitario mais caracteriza a gravidade da TP e a elevacao da percentagem de linfocitos Th2 e das, respectivas citocinas nas areas lesadas. • As variacoes dos perfis Th1/Th2 ocorrem fundamentalmente no pulmao profundo, ja que, no sangue periferico, o perfil Th1 predominava sempre sobre o Th2, independentemente da gravidade da situacao clinica. • Este facto sugere que a avaliacao da capacidade de resposta imunitaria a infeccao pelo Mycobacterium tuberculosis devera ser efectuada localmente, atraves da LBA, pois e no pulmao profundo que as celulas Th (Th0?) se diferenciam em Th1 ou Th2, influenciadas pelo microambiente citocinico presente nessas areas. • Estes achados permitem-nos acalentar fundamentadas esperancas na terapeutica imunomoduladora, em situacoes clinicamente graves que nao respondem satisfatoriamente a medicacao antibiotica correctamente instituida. • A compartimentacao destas perturbacoes imunitarias a nivel do pulmao profundo aponta para o provavel interesse na utilizacao da via inalatoria para este tipo de intervencao terapeutica. REV PORT PNEUMOL 1998; IV (6): 535-580
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