Idiossincrasias do processamento de pronomes plurais

2014 
Tradicionalmente, o estudo do processamento das expressoes pronominais sempre partiu do pressuposto de que o processador, ao ser confrontado com um pronome, inicia uma busca imediata por um antecedente. Esse ponto de vista guiou boa parte dos varios estudos sobre pronomes singulares (e.g., Arnold et al., 2000; Sturt, 2003) e, tambem, os poucos estudos feitos sobre o processamento de pronomes plurais (e.g., Oakhill et al., 1992). Nesse trabalho, apresentamos casos de pronomes plurais nao-anaforicos que desafiam essa visao incremental, como em "Alice gostava de comer carne, e eles faziam uma picanha suculenta na churrascaria do Leblon". Nesse caso, so e possivel alcancar a referencia do pronome plural ao final da sentenca, quando se chega a expressao "churrascaria do Leblon". Esses casos nos levam a questionar (i) se pronomes plurais, assim como os singulares, se ligam imediatamente a um antecedente provido pelo contexto; (ii) se o processamento de pronomes plurais depende de um antecedente explicito ou inferivel no contexto para que possa ocorrer sem custos cognitivos adicionais. Em um primeiro experimento de leitura feito por meio de rastreamento ocular, testamos com que rapidez pronomes plurais e singulares constroem uma relacao correferencial com um antecedente explicito no contexto anterior. Os resultados indicam que pronomes singulares estabelecem uma relacao imediata de correferencia, e a revogacao essa relacao implica custo cognitivo comparativamente a contextos em que a correferencia e mantida. Pronomes plurais, por outro lado, parecem nao se ligar de imediato com seu suposto antecedente, o que faz com que situacoes de revogacao de correferencia nao resultem em um custo adicional de processamento. Em um segundo experimento, testamos quao necessarios sao esses antecedentes para que pronomes plurais e singulares sejam lidos sem custo adicional. Pronomes singulares que nao tinham um antecedente explicito no contexto anterior levaram a um maior tempo de leitura do que pronomes singulares que mantinham relacao de correferencia com um antecedente. Por outro lado, pronomes plurais sem antecedente nao foram cognitivamente mais custosos em comparacao a pronomes plurais que contavam com um antecedente explicito no contexto. Levando em conta os processos de resolucao pronominal, concluimos que nossos resultados nao corroboram o pressuposto de que pronomes plurais e singulares sigam a mesma estrategia de resolucao. Como pronomes plurais tendem a depender de informacoes apresentadas posteriormente no texto, sua resolucao pode ser adiada sem acarretar custo processual. Alem disso, como nossos dados sugerem que pronomes plurais podem permanecer sem resolucao por um periodo de tempo, os resultados descritos parecem indicar que o processamento linguistico pode se pautar por representacoes superficiais do input linguistico em algumas situacoes especificas. Abstract
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []