A construção de projetos profissionais no SUS hoje: as relações entre trajetória educacional e inserção ocupacional

2016 
APRESENTACAO: Parte de pesquisa sobre trajetorias de tecnicos da saude, trata das relacoes entre formacao e insercao ocupacional de trabalhadores do SUS como construcao subjetiva de carater multidimensional, na premissa de que as narrativas constituem fragmentos que dao acesso aos seus contextos sociais. A analise considera o contexto de mudancas que vem afetando a organizacao e a gestao do trabalho no SUS a partir dos anos 2000, periodo em que o crescimento dos postos de trabalho impulsionado, sobretudo pela consolidacao da atencao basica como politica publica de saude prioritaria no pais, e a acompanhado pelo aumento da escolaridade e da qualificacao dos trabalhadores. Contudo, o que se verifica na realidade e o descompasso entre formacao e insercao, intensificacao das parcerias publicas privadas e de vinculos precarizados. Embora, de forma geral, a literatura afirme que esse desencontro e vivenciado pelos jovens e, sobretudo, pelos mais escolarizados trata-se de processo que caracteriza cada vez mais a insercao ocupacional dos trabalhadores como um todo. Algumas das questoes que nortearam o estudo expressam a preocupacao com o tema: Quais os fatores que intervem nos percursos educacionais e ocupacionais dos diferentes grupos de trabalhadores tecnicos em saude? Quais os diferentes processos de formacao educacional, e suas relacoes com os postos de trabalho ocupados pelos tecnicos em saude? O que envolve o prosseguimento de estudos dos trabalhadores tecnicos em saude? Na analise buscou-se identificar a especificidade dos percursos formativos e ocupacionais desses diferentes grupos de trabalhadores tecnicos em saude; analisar a relacao entre formacao tecnica em saude e trajetorias educacional e ocupacional; compreender como percebem a relacao entre sua formacao e insercao profissional. OBJETIVO: Analisar as relacoes entre as trajetorias educacionais de trabalhadores e sua insercao ocupacional no SUS, considerando que sao processos socialmente construidos que envolvem multiplas determinacoes. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Este estudo esta baseado em entrevistas aprofundadas realizadas nos municipios do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Campo Grande (MS), Salvador (BA), Blumenau (SC) e Rio Branco (AC) entre 2013 e 2014 com trabalhadores que ocupam postos de nivel medio ligado a atencao basica [1], a saber: auxiliares e tecnicos de enfermagem, agentes comunitarios de saude, auxiliar de saude bucal e tecnica de saude bucal, agentes de vigilância em saude (epidemiologica, sanitaria e ambiental).  As entrevistas foram realizadas com a participacao de profissionais de cinco escolas tecnicas do SUS das 05 regioes brasileiras, totalizando 130 entrevistas, com media de 1 hora de duracao. Os roteiros foram elaborados a partir de estudos anteriores do Observatorio dos Tecnicos em Saude e da literatura pertinente ao tema do estudo tendo sido discutidos coletivamente em Oficinas de Trabalho com os participantes de todas as regioes contempladas. Foram orientadas por roteiros que contemplaram, de forma geral, os seguintes aspectos: caracterizacao socioeconomica, composicao familiar, trajetoria educacional, trajetoria ocupacional com enfase na insercao no mercado de trabalho em saude, relacao formacao e ocupacao, motivacao de ingresso e permanencia na area e expectativas profissionais. Os trabalhadores foram selecionados atraves da rede de relacoes dos pesquisadores, procurando diversifica-los quanto a idade, sexo, tipo de vinculo, nivel de qualificacao e tempo de permanencia no trabalho em saude. As entrevistas foram realizadas nos lugares e momentos de conveniencia dos entrevistados, tendo ocorrido, sobretudo, nos seus locais de trabalho, respeitando intervalos de sua rotina laboral. As entrevistas foram analisadas com base em uma perspectiva compreensiva que busca os sentidos e os significados da fala dos trabalhadores, entendida como resultante de condicoes historicas e sociais assim como a interpretacao elaborada pelos pesquisadores. O projeto foi aprovado no Comite de Etica em Pesquisa com Seres Humanos da Escola Politecnica de Saude Joaquim Venâncio. Para garantir o anonimato dos entrevistados, as falas foram identificadas por uma sequencia de letras que significam, respectivamente, TE para trabalhador da enfermagem, TVS trabalhador da vigilância, TSB trabalhador da saude bucal e TACS para trabalhador agente comunitario de saude a inicial da regiao (S para sul, CO para Centro-Oeste, N para norte, NE para nordeste e SE para sudeste), seguido do numero cardinal de ordem da entrevista. RESULTADOS: Foi possivel constatar a ampliacao do acesso ao ensino medio, tecnico e superior a partir dos anos 1990 tendo por base as transformacoes da sociedade brasileira e do mercado de trabalho. Identificou-se a explicitacao do apelo social que relaciona escolarizacao, profissionalizacao e empregabilidade como fenomeno associado a mobilizacao de estudantes/trabalhadores para ampliacao de sua escolaridade. Nesta pesquisa pretendeu-se evidenciar a diversidade de situacoes recobertas pela condicao de estudante/trabalhador tecnico em saude e o lugar variavel que ocupa o estudo em suas vidas. Nesse sentido, entendeu-se ser fundamental analisar as condicoes de acesso, a escolha pelo curso e as estrategias adotadas pelo estudante para iniciar sua profissionalizacao pela formacao tecnica em saude. E relevante nesse caso ressaltar a controversia que envolve a educacao profissional de nivel tecnico que, por um lado, e apresentada como uma alternativa eficiente e necessaria de qualificacao que contribui para reduzir o desemprego entre os jovens e, por outro lado, e acusada de aprisionar os jovens oriundos das classes sociais menos favorecidas em ocupacoes que dificultam o acesso futuro a niveis educacionais mais elevados. Os trabalhadores fazem uma opcao mais tardia pela area da saude e essa mudanca no perfil etario sugere um retorno a escola de trabalhadores em busca de uma formacao tecnica que poderia facilitar-lhes o acesso a postos de trabalho mais qualificados e melhor remunerados. CONSIDERACOES FINAIS: As trajetorias dos grupos ocupacionais estudados sao marcadas por graus diferenciados de vulnerabilidade social e imprevisibilidade. A busca por uma melhor sobrevivencia define suas expectativas de futuro e o aumento da escolaridade e um anseio de todos, assim como a necessidade de reconhecimento e identidade que os trabalhadores associam ao maior equilibrio entre formacao e insercao ocupacional. A mesma luta que marca suas trajetorias contorna suas expectativas de futuro ja que a ideia de construcao de um projeto profissional associado a possibilidade de realizacao e crescimento e algo muito distante da relacao “erratica” que conseguiram construir com seu trabalho e sua qualificacao. A analise das trajetorias confirma-se como tematica relevante no campo do trabalho e da educacao no momento em que o SUS adota dispositivos de gestao baseados na flexibilidade e produtividade. E cada vez mais complexa e menos linear a relacao com o trabalho e a qualificacao dos trabalhadores, especialmente dos que atuam na atencao basica. Salienta-se o lugar das ETSUS na construcao de uma Politica de Qualificacao Profissional no SUS. [1] Para o presente artigo foram desconsideradas as entrevistas de trabalhadores da enfermagem que nao atuam na atencao basica
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