Inspirando a transformação: O coletivo InspiraSUS e a construção de um VER-SUS Interior do Paraná

2016 
Este trabalho tem como objetivo contar a historia do VER-SUS Interior do Parana, que se originou como uma acao do Coletivo InspiraSUS. O Coletivo surgiu no ano de 2013 com o intuito de fomentar discussoes sobre a saude de forma ampliada no municipio de Irati - PR. Uma de suas metas era trazer o VER-SUS para o estado, aliando o Movimento Estudantil aos Movimentos Sociais da regiao. Alguns integrantes que formaram o Coletivo ja haviam participado de outras vivencias e nossa principal dificuldade era olhar para vivencias ja concretizadas e nao conseguir encaixar o interior em formatos ja conhecidos foi entao no Congresso da Rede Unida 2014 que conseguimos entender que o VER-SUS era amplo e que, como o SUS, deveria acontecer e se efetivar levando em conta territorios e possibilidades. A partir disso, iniciamos nossa luta por um VER-SUS que representasse, de fato, nossa realidade, incluindo desde sua formulacao os Movimentos Sociais, para que pudessemos pensar juntos em formas de abranger os diversos modos de fazer saude e suas varias concepcoes. Comecamos do zero, e essa e a importância de ser um Coletivo. Corremos atras de gestores, apoiadores e profissionais para que pudessemos explicar a importância desta vivencia. Para as duas experiencias de VER-SUS que aqui relatamos docentes e instituicoes dos movimentos sociais, como por exemplo, o Instituto Equipe de Educadores Populares no VER-SUS Inverno 2014 e a Escola Latino Americana de Agroecologia juntamente com o Assentamento Constestado no Verao de 2015, foram primordiais para sua concretizacao. Eles acreditavam na nossa luta e abriram espaco nao so para uma vivencia de observacao, abriram espaco para uma vivencia de formacao que com certeza da a identidade para o nosso VER-SUS. As dificuldades de tracar um VER-SUS na realidade do interior vinha ao encontro do que presenciariamos na vivencia, como por exemplo, a extensao do territorio, as dificuldades de acesso, dificuldades com alimentacao e notas em lugares longinquos, etc. Precisavamos sempre recorrer a Rede Unida para pensar junto em estrategias para que as burocracias nao travassem nossa construcao, muitas vezes, recorrer ate para nao ferir os ideais de nossa vivencia, como por exemplo, a realizacao de um evento no faxinal onde a alimentacao foi em totalidade agroecologica e as notas emitidas, em suas possibilidades, pelos proprios produtores.  Uma de nossas conquistas, fundamentais para concretizar o VER-SUS que idealizavamos, foi conseguir abrir vagas para viventes que nao necessariamente estivessem vinculados a academia, mas que representassem algum Movimento Social. Alem disso, em ambas as vivencias que realizamos, no inverno de 2014 e no verao de 2015, priorizaram nossa estadia em alojamentos e planejamos o nosso cronograma de forma a abranger os Movimentos Sociais mais fortes da regiao, sendo incluidos: faxinalenses, agroecologistas, benzedeiras e curandeiros, quilombolas e o MST. Portanto, do dia 25/07/2014 ao dia 03/08/2014, realizamos nossa primeira vivencia. Logo apos a formacao, que foi realizada com a participacao de nossos apoiadores, nos dividimos em tres grupos que puderam conhecer diversos dispositivos de saude das cidades de Castro- PR, Prudentopolis- PR e Irati- PR, contando com a presenca de tres pessoas de Movimentos Sociais que nos mostraram a importância de flexibilizar o conhecimento academico de modo a contemplar a participacao deles. Os viventes alem de conhecer o sistema de saude de Castro conheceram a historia dos quilombos e sua resistencia, em Prudentopolis aproximaram-se das comunidades faxinalenses e em Irati das comunidades agroecologicas. Ao final, terminamos nossa vivencia no faxinal do Marcondes, com a realizacao do I Tecendo Redes - Encontro Paranaense de Povos Tradicionais, com rodas de conversa sobre saberes e praticas, trocas de experiencia, e feira agroecologica para enfatizar a importância do cuidado com a terra e com as sementes crioulas na garantia da qualidade de saude daqueles povos. Do dia 30/01/2015 ao dia 08/02/2015, realizamos nosso VER-SUS verao na cidade da Lapa, na qual ficamos alojados no Assentamento do Contestado e aprendemos com eles sobre coletividade, responsabilidade pelo espaco e o cuidado com o outro. A vivencia na cidade da Lapa, contou com um cronograma de visitas e discussoes no territorio das comunidades com benzedeiras, faxinalenses e quilombolas. Em todas as nossas acoes aproximamos as praticas dos saberes populares aos servicos de saude da comunidade, como por exemplo, a realizacao de uma roda de conversa com benzedeiras que aconteceu dentro de uma unidade de saude do territorio. Alem das visitas e discussoes, pudemos contar neste VER-SUS com uma formacao voltada para as praticas de saude, e para os movimentos sociais e estudantis. Destacamos a presenca da discussao sobre saude no assentamento, praticas no MST, saude da populacao negra, conjunturas politicas do SUS, privatizacao da saude e militâncias no contexto da saude. Para estas falas contamos com nossos apoiadores que eram militantes da saude, docentes, profissionais de saude do Estado do Parana e da gestora da Lapa que foi imprescindivel para a contextualizacao do SUS no Brasil. Durante a visita aos espacos de saude, questionavamos sempre sobre os saberes populares, a participacao social e a presenca de varias comunidades tradicionais no interior do municipio. Apesar das dificuldades, nosso VER-SUS sempre entendeu o quadrilatero da formacao como algo que nos sustenta, por este motivo atentavamos para a importância de ter ensino, gestao, atencao e controle social na construcao de nossa vivencia. O movimento social representava acima de tudo o controle social, afinal o fazer saude nas cidades interioranas precisa em primeiro lugar respeitar as peculiaridades e os modos de vida. Na nossa construcao percebemos que era preciso ampliar ainda mais a nossa formacao, era preciso olhar para a realidade da forma que ela estava se expondo, era abrir os olhos e escutar as vozes que muitas vezes falam e nao sao ouvidas. Aprendemos o sentido de saude, aprendemos que saude e sim, servicos, profissionais, equipamentos, medicamentos, mas aprendemos que a tecnologia mais importante, ou seja, a tecnologia leve esta no agir do profissional junto com os benzedeiros, o paje, o curandeiro, o sujeito que tem suas ervas medicinais no quintal de casa e entende com riqueza o seu territorio. Pudemos presenciar o fazer saude no assentamento, onde a unidade de saude era compartilhada pela equipe de saude da familia e pela equipe de saude local que oferecia o benzimento, a auriculoterapia e a bioenergia. Com a construcao deste VER-SUS entende-se que trabalhar em coletivo nao e facil, mas se aprende principalmente com o movimento social que nossa luta por um SUS universal, equitativo e integral nao pode se esgotar porque precisamos garantir esses direitos tambem fora do papel. Entendemos o nosso VER-SUS, hoje em dia, muito mais rico do que quando sonhavamos com uma vivencia que estava distante das nossas possibilidades. O Coletivo hoje e mais que apenas estudantes que sonham por uma formacao melhor, o Coletivo hoje e composto por estudantes, movimentos sociais, docentes e tem como parceiros gestores e profissionais que militam que se sensibilizam com as variadas formas de se fazer saude. O VER-SUS Interior Parana nos mostrou que a vivencia nao serve apenas para formacao, mas serve principalmente para aberturas de olhares e transformacoes, serve para mostrar a nossa possibilidade de cuidar. Cuidar da saude, do saber, da terra, da cultura, do humano.
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