Saberes e práticas tradicionais: as condições do trabalho nos estaleiros navais à beira-rio da cidade de Manaus

2016 
A beira-rio da cidade de Manaus abrange desde a foz do rio Taruma ate o rio Puraquequara. Num percurso de 43km de extensao. As margens esquerdas do rio Negro, encontram-se o bairro do Sao Raimundo que na decada de 1980 recebeu varios estaleiros tradicionais vindos de outros bairros. Nesta tese, centramos nosso olhar sobre os saberes e praticas tradicionais e as condicoes do trabalho nos estaleiros navais a beira-rio da cidade de Manaus, no bairro do Sao Raimundo, zona Oeste. Os desafios postos esse estudo teve como norte as seguintes questoes: Como os carpinteiros navais dos estaleiros Jaime Dias, Sao Raimundo e Sao Jorge veem a precarizacao do trabalho a beira-rio de Manaus? Como se deu o processo historico e transmissao desses saberes na construcao de barcos? Qual o futuro desses sujeitos na construcao naval a beira-rio do Sao Raimundo diante da precarizacao? Como contextualizar, historicamente, a fabricacao de embarcacoes na Amazonia, especificamente em Manaus? Qual o papel dos outros trabalhadores como calafates na historia da construcao naval de madeira? Os instrumentos metodologicos foram importantes em todas as fases desse estudo devido as questoes complexas que necessariamente impoe articulacoes e dialogos entre os ramos da ciencia que precisaram ser conectados e interligados para se chegar a uma resposta que permitisse entender essa realidade sobre o trabalho naval a beira-rio na Amazonia. Tecer uma visao articulada, interdisciplinar nos permitiram evidenciar as condicoes do trabalho precarizadas dos trabalhadores navais que atuam nos estaleiros tradicionais Jaime Dias, Sao Raimundo e Sao Jorge, todos localizados no bairro do Sao Raimundo, zona Oeste da cidade de Manaus. A construcao do saber e por natureza interdisciplinar, pois mobiliza em diferentes graus de intensidade os diversos campos do conhecimento, nos permitindo, de forma mais real e dinâmica, conhecer a complexidade desse estudo. Recorremos a Thompson (1987) sobre a construcao da historia vista de baixo, empregamos o conceito de memoria em Halbwachs (1990) e Bosi (1993), em Adorno e Horkheimer (1985) e Marcuse (1964) – exploramos o conceito de “fetiche” da autonomia, do lucro e da falsa liberdade que esconde sua identidade em relacao a sua producao, em Dejours (2003) e Weil (1979) exploramos a relacao sofrimento e prazer nao so nas narrativas dadas pelos sujeitos, mas tambem na vivencia cotidiana, nos mostraram algumas caracteristicas do homem amazonico, alem de outros autores. Por este caminho ou percurso teorico recorreu-se a abordagem qualitativa, onde os sujeitos da pesquisa foram compostos por: 04 carpinteiros navais, 04 calafates e mais 05 trabalhadores entre varias modalidades: pintor, mecânico de motor, marceneiro, eletricista, soldador, encanador e entre outros que prestam servicos aos pequenos estaleiros citados. A partir das narrativas desses trabalhadores navais pudemos conhecemos as condicoes do trabalho, o saber cultural sobre a atividade de producao e reparacao de barcos ainda atuante a beira-rio da cidade. Percebemos a memoria do lugar, sobre sua arte e oficio que nos possibilitou a compreensao de uma realidade social ainda ocultada, mas mesmo assim viva e presente. Um dos sujeitos centrais da pesquisa foi o carpinteiro naval, por proporcionar informacoes sobre o saber-fazer que emerge das praticas cotidianas. O homem amazonico, portador de um conhecimento tradicional se insere na historia da regiao como construtor das aguas, capaz de construir embarcacoes singulares. Trazem em seu interior a marca de uma tradicao secular, carregam em sua historia uma face do trabalho da regiao Amazonica. O trabalho precario e uma constante, o que faz com que possam ocorrer acidentes iminentes pela falta de infraestrutura ou pelo cansaco devido a longas jornadas de trabalho. Pensar em desenvolvimento local perpassa, antes de tudo, em um esforco em encontrar mecanismos que associem o saber tradicional (onde reside a riqueza e criatividade), de praticas produtivas tradicionais, caracterizadas pelo saber do homem. Entender o processo de trabalho a beira-rio nos permitiu perceber a face do trabalho subjacente do homem amazonico, da reificacao e do desaparecimento simbolico de individuos as margens a beira-rio com profissoes que nao exigem qualificacao tecnica, mas um enorme cabedal de conhecimento empirico na arte da construcao naval, sendo essencial para o mundo do trabalho nos estaleiros de tradicionais a beira-rio da Amazonia.
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