Provas de Língua Portuguesa Aplicadas em Vestibulares: ainda se encontra gramática tradicional nessa seara?

2008 
Com o objetivo de contribuir para o debate acerca do ensino e da avaliacao de Lingua Portuguesa, apresentam-se os resultados da analise das questoes de multipla escolha de quarenta e quatro provas aplicadas em vestibulares de onze universidades federais e de onze particulares, todas de Minas Gerais, em dois anos: 2002 e 2006. O estudo foi motivado pela constatacao de que ainda predomina nas aulas de Lingua Portuguesa, no Ensino Fundamental e no Ensino Medio, a exercitacao em torno de morfossintaxe, isto e, de gramatica tradicional (GT). De um lado, os professores desses segmentos alegam que tem de ensinar GT porque ela e cobrada nas provas dos vestibulares; de outro, alguns linguistas afirmam que nao se cobra mais isso. Identificaram-se, nas provas, as questoes que tinham foco em GT, entendidas como aquelas que fazem uso de nomenclatura gramatical, seja tendendo a uma abordagem voltada para o uso da lingua, seja explicitamente exigindo conhecimento de gramatica. Compararam-se os resultados de um ano para outro, e entre instituicoes federais e particulares. Nos vestibulares de 2002 e de 2006, a incidencia de questoes de GT, no total das provas dos dois conjuntos de instituicoes, foi a mesma: 12%; baixa, portanto, o que nao justifica a enfase nesse tipo de ensino. Apurou-se, porem, que dez, entre onze instituicoes particulares, nos dois anos, apresentaram em suas provas pelo menos uma questao de GT. Entre as federais, em 2002, dez apresentaram essa ocorrencia, caindo, em 2006, para nove. Esse numero e alto, e e possivel pensar que ele embasa o argumento do professor que insiste em afirmar que se cobra GT no vestibular. O estudo revelou tambem que nao ha uma diferenca significativa de cobranca de GT entre as instituicoes particulares e as federais. Alem das provas, analisaram-se dezesseis manuais do candidato publicados para o vestibular de oito dessas instituicoes, com o intuito de se verificar se a forma de apresentacao do conteudo a ser cobrado na prova de Lingua Portuguesa contribui para reforcar o status de GT. Ainda que, em algum manual, tenha havido, de 2002 para 2006, uma mudanca significativa na forma de apresentacao do conteudo, e ainda que as formas de apresentacao tenham sido diferentes, umas com aparencia mais moderna do que outras, isso nao teve reflexos significativos nas provas. Como se verificou, ele nem sempre tem uma linguagem voltada para o aluno do Ensino Medio, mas, sim, para o especialista em Lingua Portuguesa, utilizando termos linguisticos que podem nao ser de dominio nem mesmo do professor. Diante disso, torna-se necessario repensar essa publicacao, para que ela nao reforce o status de GT na sala de aula nem se torne uma esfinge que so se decifra por especialistas. Finalmente, este estudo sugere que as universidades eliminem totalmente as questoes de GT das provas de seus vestibulares. Enfatiza-se a necessidade de que a universidade e a escola de educacao basica trabalhem mais proximamente, visto que a pratica docente, para ser transformada, precisa de suporte teorico e de acompanhamento continuo por especialistas.
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []