Andarilhos da imaginaçäo: um estudo sobre loucos de rua

1998 
O objetivo geral deste trabalho e o de procurar formular uma teoria acerca do papel do chamado ®louco de rua» no imaginario popular, atraves da apreensao do lugar por ele ocupado no conjunto de narrativas que constituem a historia e a tradicao oral de uma comunidade. A compreensao de ®loucura» aqui levada em conta baseou-se no pensamento de Foucault, que a ve como um fenomeno determinado historicamente e divide as formas de sua concepcao no decorrer da historia entre as modalidades tragica e critica, a primeira antecedendo o advento da psiquiatria. O material de pesquisa foi obtido atraves de duas fontes que, embora distintas, guardam muito contato entre si: 1. a narrativa literaria (em poesia e prosa) de uma serie de escritores brasileiros; 2. entrevistas com pessoas de uma comunidade. Tanto nas narrativas recolhidas da literatura como naquela dos entrevistados, buscou-se apreender as caracteristicas das relacoes que se travam entre louco de rua e a comunidade no espaco do teatro do mundo e detectar-se a maneira como o convivio com o louco toca o imaginario popular e produz efeitos. Nesta linha, procurou-se destacar, no material levantado, as diversas modalidades do relacionamento entre o louco de rua e a cidade para, em seguida, esbocar-se uma teoria dos lugares que se atribuem ao louco e das funcoes que ele acaba por exercer no seio da comunidade. Dito de outra forma, a investigacao realizada procurou detectar o espaco mental que o contato com o louco ocupa no cidadao comum, tanto no plano individual como no coletivo. O trabalho de campo foi realizado na cidade de Cambui, Minas Gerais, atraves de entrevistas semi-abertas, com o foco situado nas memorias do entrevistado sobre os loucos de rua da cidade, versando sobre aquilo que ele vivenciou e escutou a respeito de tais pessoas. A escolha dos sujeitos obedeceu ao criterio da amostra qualificada e o metodo adotado foi o do chamado relato oral. A analise do material levantado sobre o louco de rua, entre outras coisas, mostrou-se como uma especie de remanescente da loucura tragica que, embora tenha escapado a institucionalizacao medica, vive sua loucura em uma "ilha" cercada pela concepcao critica. A rua (theatrum mundi) seria o espaco por excelencia para a possibilidade da experiencia da loucura em estado livre, e os efeitos deste fenomeno fazem-se sentir tanto para o louco como para a comunidade, que com ele se relaciona de modo ambivalente(AU)
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