Consequências clínicas e metabólicas da insegurança alimentar familiar em pessoas vivendo com HIV/AIDS: um estudo coorte

2017 
A inseguranca alimentar (IA) atinge 22,6% da populacao brasileira, porem sua prevalencia e consequencia em pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) sao pouco conhecidas no Brasil. Estudaram-se as consequencias da IA em PVHA, considerando seu efeito sobre a morbidade clinica associada ao HIV/Aids, sobre alteracoes metabolicas da Sindrome Lipodistrofica do HIV, o risco cardiovascular (RCV) e a adesao ao tratamento. Realizou-se uma coorte de 400 PVHA acompanhadas em servico de referencia no Estado da Paraiba, entre marco de 2015 a maio de 2016, que foram classificadas em dois grupos quanto a exposicao a IA, obtida pela Escala Brasileira de Inseguranca Alimentar e acompanhadas por um ano para avaliacao dos desfechos. Descreveram-se as frequencias das variaveis sociodemograficas, clinicas, laboratoriais e o RCV; com sua associacao com IA, utilizando os testes quiquadrado e Mann-Whitney. Elaborou-se instrumento para avaliar a adesao a terapia antirretroviral (TARV). Utilizaram-se os estimadores de Kaplan-Meier e Nelson-Aalen para estimar a sobrevivencia. O teste Logrank comparou as curvas por variavel, e utilizou-se modelo de regressao de Cox para estimar o risco associado a cada desfecho. Elaborou-se modelo de arvore de decisao para identificar os individuos com carga viral (CV) detectavel. A amostra caracterizou-se por maioria do sexo masculino (61,5%), raca/cor parda (54,8%), media e mediana da idade de 44 anos, 57,1% com escolaridade ate ensino fundamental incompleto, 48,5% eram aposentados, 32,8% com renda per capita entre 1/3 a 1/2 salario minimo vigente. O tempo medio de diagnostico foi de 7,8 anos e de uso de TARV foi de 6,9 anos. A prevalencia de IA foi de 70,7% em 399 PVHA, sendo maior nos domicilios com menores de 18 anos, e a IA grave acometeu 19,5% dessas pessoas. A IA moderada ou grave (IAMo/IAG) esteve associada ao sexo feminino, a raca/cor nao branca, a baixa escolaridade, baixa renda per capita, estar desempregado, nao ser aderente a TARV e ter CV detectavel. Nao houve diferenca entre os grupos para niveis de hemoglobina, hematocrito, proteinas sericas, glicemia, perfil lipidico e indice de massa corporal. Individuos em IAMo/IAG eram mais tabagistas, sedentarios e com maiores niveis de Proteina C ultrassensivel. O RCV foi classificado como alto em 7,9 e 40,7% das PVHA quando se utilizaram, respectivamente, o Escore de Risco de Framingham e o Escore de Risco Global, e nao se relacionou com IAMo/IAG. O Escore de Adesao 42 apresentou acuracia de 63% para detectar as PVHA com CV detectavel e classificou 58,5% como aderentes. A ma adesao a TARV aumentou em 1,6 vezes o risco para atendimento no hospital dia, em 1,7 vezes o risco para apresentar doenca infecciosa associada a imunodeficiencia do HIV/Aids e em 1,9 vezes o risco para apresentar CV detectavel no seguimento de 12 meses. A IAMo/IAG esteve associada com pior sobrevida para procurar atendimento no hospital dia, apresentar doenca infecciosa associada a imunodeficiencia do HIV/Aids e ter contagem de CD4 menor que 350 celulas/mm3, durante o seguimento de 12 meses. Individuos aderentes ao tratamento em seguranca alimentar ou IA leve tiveram melhor sobrevida para apresentar CV detectavel. Estar em IAMo/IAG aumentou em 1,7 vezes o risco para procurar atendimento no hospital dia, em 1,9 vezes o risco para doenca infecciosa associada a imunodeficiencia do HIV/Aids e em 1,7 vezes o risco para doenca relacionada ao HIV/Aids nao associada a imunodeficiencia, durante o seguimento de 12 meses. Ao final deste periodo a CV estava indetectavel em 76,7% dos 322 individuos, que dispunham de novos exames. A avaliacao da CV, contagem de celulas CD4 e adesao ao tratamento foi capaz de predizer corretamente 80,0% das PVHA quanto a CV detectavel apos 12 meses a partir de regras obtidas pelo modelo de arvore de decisao. A IA e um estressor que piora a evolucao clinica de PVHA no seguimento de 12 meses, destacando-se como ponto de vulnerabilidade a ser melhor investigado e valorizado para o controle efetivo da epidemia de Aids.
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