EDUCAÇÃO EM SAÚDE: RELATO DE UMA INTERVENÇÃO REALIZADA POR PETIANOS EM UMA ALDEIA INDÍGENA

2016 
INTRODUCAO: A Universidade Comunitaria da Regiao de Chapeco juntamente com a Secretaria de Estado da Saude de Santa Catarina e a Secretaria da Saude de Chapeco, em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos da saude, tem promovido processos de reorientacao da formacao profissional, de acordo com dispositivos dos Ministerios da Saude e da Educacao. Em 2013 foi aprovado, neste contexto, o Programa de Educacao pelo Trabalho para a Saude (PET-Saude): Redes de Atencao a Saude da Populacao Indigena. Tal aprovacao corrobora o compromisso da instituicao de ensino e do servico publico em promover mudancas na formacao e nos processos de educacao em saude, com foco na realidade e enfase nas diretrizes e principios do Sistema Unico de Saude. O PET-Saude propoe o envolvimento de grupos tutoriais de estudantes, docentes e trabalhadores da saude, organizados a partir do principio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensao. No PET-Redes de Atencao a Saude da Populacao Indigena estao envolvidos professores e estudantes de dez cursos da Unochapeco, profissionais e gestores da secretaria de saude do municipio de Chapeco, alem de profissionais vinculados ao Polo Base da Secretaria de Saude Indigena. Cabe ressaltar que os cursos envolvidos no processo de reorientacao da formacao profissional em saude sao: Ciencias Biologicas, Educacao Fisica, Enfermagem, Farmacia, Fisioterapia, Medicina, Nutricao, Odontologia, Psicologia e Servico Social. Com base na compreensao de que o processo de ensino-aprendizagem se da de forma participativa e considerando que o PET-Saude busca qualificar acoes voltadas a promocao, protecao e recuperacao da saude dos individuos envolvidos, foi realizado uma acao de educacao em saude com mulheres de uma aldeia indigena como parte das acoes do Outubro Rosa 2014. Objetivou-se esclarecer duvidas frequentes com relacao a saude da mulher, alem de qualificar a formacao de estudantes. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS: A proposta da atividade de educacao em saude se deu a partir de um encontro tutorial do PET. Foi solicitado ao grupo de estudantes e preceptores o planejamento de uma intervencao, que ocorresse em meio as acoes do Outubro Rosa, em outubro de 2014. O grupo responsavel pela atividade em uma das aldeias indigenas era composto por estudantes de psicologia, enfermagem, odontologia, nutricao e farmacia, alem da preceptora e enfermeira da aldeia e de uma professora tutora do PET Redes de Atencao a Saude da Populacao Indigena. Apos diversos encontros de planejamento, definiu-se que o metodo utilizado seria a dinâmica da danca circular, acompanhada de pausas para debater aspectos da saude da mulher. O local escolhido para realizacao da atividade foi uma area verde, situada em frente a unidade de saude da aldeia. A coordenacao da danca e dos conteudos ficou sob responsabilidade dos academicos. Cada estudante ficou responsavel por promover o debate a partir de uma informacao relacionada com a sua area de qualificacao profissional e que tivesse vinculo com problemas da comunidade previamente conhecidos. Todos se comprometeram a aprofundar os estudos sobre todos os assuntos, para auxiliar na conducao da atividade. Os temas abordados foram: vacinacao, uso de contraceptivo oral, saude mental/depressao, higiene bucal e autoexame das mamas. Ao final da acao foram avaliados os resultados obtidos. RESULTADOS E DISCUSSAO: Participaram da acao cerca de 50 mulheres, alem da equipe de saude da unidade de saude da comunidade. Como primeira estrategia, de acolhimento, foi realizada uma danca circular com passos e ritmo calmos. Alguns estudantes formaram um circulo, inicialmente com os agentes indigenas de saude (AIS), e outros se dispersaram no local e incentivaram as mulheres a se aproximarem da roda. No inicio algumas se sentiram envergonhadas, porem com o passar do tempo acabaram se integrando ao grupo. A metodologia da danca circular foi escolhida pelo grupo, pois esse tipo de danca acolhe e honra diferentes povos e tradicoes. Durante a roda compartilham-se gestos e significados de culturas diversas, nao e necessario ter conhecimentos nem habilidades especificas sobre danca, basta o desejo. Entre uma musica e outra o debate e esclarecimento de duvidas acontecia. E importante destacar a participacao dos AIS na roda. Os AIS sao motivadores de transformacao e tem papel essencial na melhoria da qualidade de vida e autonomia dos povos indigenas. Nesse contexto, a participacao desses profissionais enriqueceu a roda e, concomitantemente, gerou um processo de educacao permanente. A problematizacao, a partir da realidade, e essencial para que se promova a educacao e foi isso que o grupo buscou fazer. Pode-se considerar que a grande maioria das indigenas participou de forma ativa e puderam esclarecer duvidas em relacao aos temas abordados. Um aspecto interessante diz respeito ao fato de que os questionamentos feitos por elas possuiam vinculo com a propria saude e com a saude de familiares. Tal situacao evidencia a premissa de que a mulher e promotora da saude, principalmente na familia. Tambem cabe ressaltar que a atividade proporcionou aos estudantes conhecer algumas crencas e costumes da populacao. Diversas vezes, durante a dinâmica, as indias relataram acoes de cuidado com a saude comuns na aldeia, mas distintas das utilizadas pela populacao nao indigena. Ao fim de todas as dancas e orientacoes as participantes puderam avaliar verbalmente a acao de educacao em saude. Muitas referiram satisfacao com relacao a abordagem utilizada e citaram a importância de poder esclarecer duvidas relacionadas a saude. Ficou evidente o fato de que a metodologia utilizada promoveu articulacao de saberes e que a atividade ao ar livre imprimiu uma conotacao de promocao de saude e lazer. Os petianos tambem avaliaram a atividade de forma positiva. Um dos estudantes relatou: “foi uma experiencia que sera levada para toda a vida. Nos, futuros profissionais da saude, temos compromissos para com a saude de nossa populacao, seja ela de qual etnia for. Deve-se respeitar a cultura de cada povo”. CONSIDERACOES FINAIS: Quando se fala em educacao em saude, estao imbuidos conceitos e praticas de promocao e prevencao, que remeteu ao publico participante da atividade, a preocupacao nao somente com a saude das mulheres, foco da acao, mas tambem com a saude da familia, uma vez que se trata de mudanca de comportamento, o que inclui todos os membros. A adesao da comunidade feminina e envolvimento nas atividades de orientacao sobre vacinacao, o uso de contraceptivo oral, questoes sobre saude mental/depressao, higiene bucal e autoexame das mamas, para prevenir doencas, certamente tornou o resultado da intervencao satisfatorio. A dinâmica da danca circular inovou e facilitou o caminho para percorrer estrategias de promocao da saude. Importante destacar que a insercao academica e profissional junto a populacao indigena requer respeito a sua cultura, reconhecimento de seus costumes no cuidado com sua saude e valorizacao do saber popular, e o grupo tutorial levou isso em consideracao no planejamento de sua vivencia. Esta experiencia traz consigo a responsabilidade academica e profissional de promover a saude da populacao a partir das necessidades e realidade identificada.
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