“LÉXICO” DE ARQUITETURA E URBANISMO E MICROPOLÍTICA

2020 
O objetivo desta sessao e apresentar a pesquisa “Lexico de arquitetura e urbanismo e micropolitica”, assim como divulgar sua a revista virtual, a revistalexico.org. Desta forma, para iniciar, compartilhamos da mesma angustia de Calvino: As vezes me parece que uma epidemia pestilenta atingiu a humanidade inteira em sua faculdade mais caracteristica, ou seja, no uso da palavra, consistindo essa peste da lingua numa perda de forca cognoscitiva e de imediaticidade, como um automatismo que tendesse a nivelar a expressao em formulas mais genericas, anonimas, abstratas, a diluir os significados, a embotar os pontos expressivos, a extinguir toda centelha que crepite no encontro das palavras com novas circunstâncias (CALVINO, 2009, s/p). A pesquisa possui o objetivo de construir um plato coletivo com a contribuicao de inumeros parceiros. Em um momento de guerra conceitual, ao qual o estofo ( stof en por Flusser) das palavras vem sendo preenchido e disputado em uma guerra hibrida; e preciso reconhecer que as palavras e os conceitos estao “perdendo” o sentido. Porem, tal premissa nao pode ser tratada como distopica, mas como um inicio de um novo momento. O intermezzo entre as palavras e as coisas e o local dessa guerra, que, em nosso proposito, e o local onde ela sempre deveria estar, pois nao ha e nao deveria existir conceito consolidado e fechado sobre tudo. A palavra, ao longo da historia, ganha peso com a sedimentacao do seu uso; ela ganha um corpo que se engessa. Por exemplo: o que representa a palavra “comunismo” para nossa sociedade de predominância “neoliberal”? Mesmo relacionado aos fazeres comunitarios tao presentes nos povos originarios da America, Asia e Africa e quase impossivel relacionar a palavra comunismo com essas praticas, pois ela foi coercitivamente fabulada para um status “maligno e amaldicoado”. A sacralizacao das palavras e o que nao nos importa, mas, sim, a suspensao delas. A continua investigacao arqueologica dos conceitos. Eu creio no poder das palavras, na forca das palavras, creio que fazemos coisas com as palavras e tambem que as palavras fazem coisas conosco. As palavras determinam nossos pensamentos porque nao pensamos com pensamentos, nao pensamos de acordo com uma suposta genialidade ou inteligencia, mas a partir de nossas palavras. Pensar e dar sentido ao que somos e ao que nos acontece (BONDIA, 2001, p. 21). O que podemos concluir e que o que vemos nas paginas de redes sociais e uma guerra informacional obscura. Um levante de fabulacao de conceitos, em que muitas vezes nao possui base nem comprometimento com as coisas. Por conta de uma heranca “platonica” sempre esperamos muito das palavras, porem, e preciso enxergar filosoficamente e questionar as palavras, conceitos e verdades prontas. Sempre um simulacro dentro de um simulacro. (...) a construcao de conceitos nao e apenas uma operacao epistemologica, mas igualmente um projeto ontologico. Construir conceitos e o que eles chamam de "nomes comuns" e de fato uma atividade que combina inteligencia e a acao da multidao, forcando-as a trabalhar juntas. Construir conceitos significa fazer existir, na realidade, um projeto que e uma comunidade (DELEUZE; GUATTARI, 2007, s/p). Quando se conversa ou se discute sobre algo e comum que surjam confusoes acerca de valores adotados e defendidos por cada individuo, pois cada individuo e constituido por um processo unico, e ao confrontar com os outros, emergem-se discordâncias, concordâncias e mal-entendidos. Essa ambiguidade e intrinseca a comunicacao, pois cada pessoa constroi o seu mundo, e este mundo e unico no seu proprio contexto. Segundo Gilles Deleuze e Felix Guattari “o minimo que se pode dizer sobre as discussoes e que elas nunca falam da mesma coisa”. Em contrapartida as discussoes, o que interessa e a criacao, a criacao de conceitos para um determinado problema. As proposicoes urbanisticas e arquitetonicas estao vinculadas a esses conceitos, e eles foram sedimentando-se ao longo do tempo. Dos modelos do Movimento Moderno, que reverberaram no modernismo, ao modelo de Planejamento Estrategico de Borja, que suscitaram nas estrategias de formacao das cidades globais. O percurso do conceituar ao fazer se atualiza de diversas formas e de diversas maneiras. Verifica-se entao que o discurso pode gerar uma infinidade de repercussoes, desdobramentos, e muitas vezes destoam das intencoes iniciais do filosofo. Tais dissonâncias sao inevitaveis, pois e impossivel agir de forma que contemple todas as expectativas ou se iguale as mesmas situacoes de um conceito criado. Por fim, a revista Lexico de arquitetura e urbanismo e micropolitica, possui o objetivo de construir um plato coletivo com a contribuicao de inumeros parceiros. Cada escritor ira tensionar/escrever sobre um conceito que ele trabalha, que lhe e intimo. Com a insercao de varios trabalhos teceremos um plano coletivo, construindo uma especie de glossario hipertextualizado. REFERENCIAS DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. O que e a filosofia? Sao Paulo, SP: Editora 34. 2007. BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiencia e o saber de experiencia. Conferencia proferida no I Seminario Internacional de Educacao de Campinas, traduzida e publicada, em julho de 2001. CALVINO, Italo. Seis propostas para o proximo milenio . Traducao de Ivo Barroso. Sao Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009.
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