The relationship between non-adherence to treatment and false beliefs of bipolar patients and their families

2010 
Endereco para correspondencia: Ricardo A. Moreno. Programa de Transtornos Afetivos (GRUDA), Departamento e Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da Universidade de Sao Paulo. Rua Dr. Ovidio Pires de Campos, 785. CEAPESQ, 3o andar, Ala Norte, sala 12 − 05403-010 − Sao Paulo, SP. Telefax: +55 (11) 3069-6648. E-mail: rmoreno@hcnet.usp.br A baixa adesao a medicacao entre os pacientes bipolares e conhecida e e um fator importante no insucesso do tratamento de alguns casos. A percepcao do paciente a respeito da doenca e da importância da medicacao influencia na sua adesao1. Sendo assim, quanto mais informados sobre a doenca, como ela se manifesta, os tratamentos disponiveis e sua importância para se obter estabilizacao do quadro clinico, mais aumenta a adesao ao tratamento, levando a melhor desfecho2,3. Fatores psicossociais como personalidade, estilo cognitivo, presenca de emocao expressa na familia, eventos vitais estressantes e suporte emocional tambem parecem contribuir em 25% a 30% nas alteracoes no curso da doenca, influenciando na recuperacao sintomatica e na qualidade de vida4,5. A baixa adesao ao tratamento medicamentoso ainda e o fator responsavel pelo maior numero de recaidas. A literatura evidencia que os fatores mais relacionados a baixa recuperacao sintomatica e funcional sao nao adesao6, presenca de sintomas entre episodios7, uso de antipsicoticos, baixo funcionamento pre-morbido, comorbidade com transtorno de personalidade8 e prejuizo cognitivo relacionado com o transtorno do humor9. Nos ultimos anos, muitos pesquisadores tem se dedicado a avaliar os motivos da baixa adesao ao tratamento, nao apenas no que diz respeito ao transtorno bipolar, mas em relacao a doencas cronicas em geral. Um estudo feito com pacientes japoneses com doencas cronicas identificou, entre outros topicos, que a baixa adesao a medicacao esta associada a crencas pessoais a respeito da doenca, nao valorizacao da relacao de confianca com o medico, maior valorizacao dos possiveis efeitos colaterais da medicacao e pouca compreensao de sua necessidade10. Bowskill et al.5, em 2007, avaliaram 223 pacientes membros do Manic Depression Fellowship (MDF), e aqueles que reportaram baixa adesao a medicacao tiveram alta insatisfacao com a informacao fornecida; ja os que reportaram alta adesao tiveram baixa insatisfacao com a informacao. Isso parece demonstrar a associacao entre a informacao correta e a boa adesao. Sendo assim, e importante que a psicoeducacao associada ao tratamento do transtorno bipolar (TB) inclua nao apenas a informacao sobre a doenca e seu tratamento, mas leve em consideracao as crencas inadequadas dos pacientes que podem atrapalhar na assimilacao da informacao prestada e consequentemente atrapalhar na adesao ao tratamento e na obtencao de bons resultados. Por isso, o Programa de Transtornos Afetivos do IPq-HCFMUSP realizou um estudo-piloto acerca das principais crencas erroneas dos pacientes e familiares presentes em seus Encontros Psicoeducacionais abertos. Para isso, foi elaborado um questionario que consistia de 32 afirmacoes (verdadeiras e falsas) a respeito da doenca, de seu tratamento, da importância da familia e da prevencao de recaidas. Os sujeitos participantes do estudo foram instruidos a atribuir a cada afirmacao o criterio de verdadeira (V) ou falsa (F). Sessenta e dois sujeitos participaram do estudo. Os resultados demonstraram que 40% dos sujeitos tem crencas erroneas a respeito da natureza biologica da doenca, da importância do apoio da familia e dos efeitos da medicacao. As principais crencas erroneas levantadas foram: O TB e um problema psicologico. 1. O tratamento medicamentoso pode comprometer a vida do 2. paciente mais do que melhora-la (relacao risco x beneficio). O TB e emocional, e nao biologico. 3. O TB nao e um transtorno mental ou uma doenca medica. 4. A medicacao, alem de causar dependencia, e prejudicial. 5. A familia tem um papel prejudicial no tratamento. 6. A cura e possivel. 7. Essas crencas foram semelhantes as encontradas em outros estudos6,5,1,11 com portadores de doencas mentais e cronicas. Os resultados deste estudo levantam algumas questoes importantes a respeito do tipo de informacao que precisa ser dada ao paciente e seus familiares a fim de melhorar a adesao ao tratamento: (a) E importante o esclarecimento a respeito da natureza biologica do TB a fim de separar fatores biologicos dos sociais que podem ser gatilhos para um novo episodio12. (b) Deve ficar clara a ausencia de evidencia de cura do transtorno, mas a possibilidade de controle dele, como em doencas cronicas em geral. Essa informacao pode frustrar pacientes e familiares quando eles percebem que o tratamento e para a vida toda, mas, a partir da aceitacao desse fato e havendo uma relacao de cumplicidade e confianca entre medico, psicoterapeuta e paciente, o tratamento torna-se mais eficiente. (c) A familia deve ser incluida e orientada desde o inicio, a fim de que sua participacao no tratamento, no controle de recaidas e na melhora da comunicacao possa favorecer a manutencao da estabilidade. (d) Finalmente, e fundamental que se ressalte e esclareca a importância do tratamento farmacologico para a obtencao de bons resultados e os possiveis efeitos colaterais da medicacao, bem como as alternativas para ameniza-los. Esses sao pontos cruciais nao so para melhorar a compressao da doenca e seu tratamento, garantindo maior adesao, mas tambem para diminuir o estigma e o preconceito que ainda afetam os portadores desse transtorno e seus familiares.
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