A fonte subterranea : o pensamento critico de Jose de Alencar e a retorica oitocentista

2003 
O objetivo deste trabalho e analisar o pensamento critico de Jose de Alencar no quadro historico da sua producao, ressaltando os vinculos que o articulam com a retorica oitocentista. Num primeiro momento, verifica-se a permanencia da eloquencia no sistema de ensino do seculo XIX e discutem-se as ideias apresentadas em cinco tratados amplamente divulgados no periodo: as Lectures on rhetoric and belles lettres, do escoces Hugh Blair; as Licoes elementares de eloquencia nacional e as Licoes elementares de poetica nacional, do portugues Francisco Freire de Carvalho; e, dentre os retores brasileiros, as Licoes de eloquencia nacional, de Lopes Gama, e os Elementos de retorica nacional, de Junqueira Freire. A analise desses manuais possibilita perceber um processo de entrelacamento entre a retorica e os novos paradigmas da critica romântica, partindo de Blair, cujo tratado ja aponta para um movimento em direcao a psicologizacao da elocutio, ate Junqueira Freire, que apresenta uma nova visao de antigos conceitos, como genio e imaginacao, definidos de perspectiva nitidamente romântica. Apos a apresentacao da retorica oitocentista, retomam-se os textos critico-teoricos produzidos por Jose de Alencar (prefacios, artigos jornalisticos e, principalmente, intervencoes em polemicas literarias), organizando-os a partir dos generos abordados: cronica, epopeia, poesia popular, romance e, no campo teatral, a comedia e o drama historico. Na leitura desse material, procura-se destacar o uso de nocoes fundamentais da poetica classica, como os conceitos de decoro (que, apesar de nao ser nomeado, orienta a analise de A confederacao dos tamoios, poema censurado por nao guardar as conveniencias devidas ao genero e ao objeto do canto) e de verossimilhanca (usado tanto na analise de textos de terceiros, como para justificar sua propria producao). A par da utilizacao desses conceitos, Alencar evidencia clara consciencia dos ornamentos aptos a produzir os efeitos desejados sobre o leitor, com destaque especial para a hiperbole e a amplificacao, recursos valiosos para elevar a materia ao nivel de grandiosidade conveniente e que seriam utilizados pelo romancista ao longo da sua obra ficcional. Procura-se demonstrar que mais importante do que o uso de conceitos pontuais oriundos da retorica e o fato de Alencar conceber o texto como uma forma, uma realizacao particular de um genero cujos tracos distintivos podem ser conhecidos, codificados e estudados. Partindo dessa perspectiva, sua primeira atitude como critico e tomar o objeto analisado e verificar o genero no qual se insere. A recorrencia desse procedimento faz com que, mesmo de maneira assistematica, o autor acabe constituindo um complexo sistema de generos, elaborado a partir de uma especie de grade que define o texto por meio de tracos distintivos como tema, estilo, finalidade, personagens ou outros aspectos formais relevantes. Na elaboracao da teoria de cada genero, ora lanca mao de maior quantidade de conceitos retoricos, como na analise da epopeia, genero classico por excelencia, ora se distancia um pouco dessa fonte, como ao discutir o romance ou a comedia. Em todo caso, entretanto, conserva a mirada retorica que permite definir os elementos estruturadores de cada genero. Encerrando o trabalho, investigam-se alguns romances ambientados nas florestas e campos do interior do pais, procurando-se demonstrar a existencia de uma topica, um conjunto de lugares-comuns empregados na descricao da natureza brasileira. Ao fim do percurso, o que se verifica e a profunda relacao do pensamento critico alencariano com a retorica oitocentista, o que nos convida a repensar o lugar da eloquencia no seculo XIX e a rever a concepcao do romantismo como ruptura definitiva com as poeticas que o precederam, avancando, assim, o questionamento do psicologismo critico, que concebe a obra como expressao dos sentimentos do autor Abstract
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []