REDES SOCIAIS NA REGULAÇÃO DA ASSISTÊNCIA A PARTIR DA ATENÇÃO PRIMÁRIA DE SAÚDE

2019 
Profissionais de saude integram redes socioprofissionais nos seus espacos laborais, e seus arranjos organizativos sao balizados pelas praticas, recursos existentes e disposicoes normativas. Considera-se que estas redes possuem um papel de relevância para garantia do acesso aos servicos de saude, em especial quando ha barreiras administrativas ou de outra ordem, o que demanda uma mobilizacao de atores e fluxos de informacao para a efetivacao do cuidado. Nos municipios brasileiros, a relacao entre o nivel da Atencao Primaria de Saude (APS) e o nivel da atencao especializada se da, usualmente, por meio de um Setor de Regulacao, que nao prescinde, no entanto, da atuacao articulada entre os niveis e os atores profissionais. Este estudo tem como objeto as redes sociais de trabalhadores de saude da Atencao Primaria de Saude para o acesso aos servicos de atencao especializada em um municipio de pequeno porte do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. O objetivo geral consistiu em conhecer as relacoes sociais dos trabalhadores em saude da atencao basica para a regulacao da assistencia a saude na perspectiva da rede social. Este estudo resultou em uma dissertacao de mestrado, e e um recorte do projeto-matriz intitulado “Analise de redes sociais no trabalho da enfermagem na Atencao Basica: um estudo em municipios do Rio de Janeiro e Ceara”. A abordagem metodologica foi mista, quantitativa e qualitativa, e teve como cenario quatro unidades de APS e os setores municipais de Controle e Avaliacao, Tratamento Fora de Domicilio (TFD) e Coordenadoria de Atencao Basica (AB). Participaram do estudo 12 trabalhadores, sendo quatro enfermeiros, tres agentes comunitarios de saude, um medico, um coordenador da atencao basica, dois profissionais do TFD e um do controle e avaliacao. Para a coleta dos dados, optou-se pela entrevista semiestruturada. Os dados foram coletados em dezembro de 2015 e janeiro de 2016. O estudo foi aprovado pelo Comite de Etica em Pesquisa conforme parecer 728.664. Os dados foram analisados atraves da Analise de Redes Sociais (ARS), gerando medidas de centralidades dos atores. Foram utilizados os softwares Ucinet e Gephi, para calculo das medidas e criacao do sociograma, respectivamente. Para o segmento qualitativo, utilizou-se Analise de Conteudo. Como resultados desta pesquisa tem-se que os atores com maior centralidade de grau foram: controle e avaliacao, coordenador da atencao basica e coordenador do TFD. A medida de centralidade de intermediacao foi obtida, com maior centralidade tambem para os mesmos atores (Figura 1). Os setores responsaveis pelos encaminhamentos dos pacientes sao centrais para o fluxo de acesso, e estao articulados com a coordenacao de AB. O enfermeiro aparece como central em relacao a intermediacao, o que pode ser explicado pelo seu papel de intermediador e articulador, em funcao das caracteristicas do seu processo de trabalho. Na analise qualitativa das entrevistas, quatro categorias emergiram: encaminhamento para a atencao especializada; relacionamento com a equipe; redes primarias e acesso e contatos socioprofissionais. As interacoes sociais entre os atores favorecem a circulacao de informacao por toda rede e afetam, positivamente, nas respostas dos servicos de saude ofertados a populacao. Os participantes apontaram que os encaminhamentos para a atencao especializada dentro do municipio sao feitos pelo proprio usuario, o qual agenda sua consulta no centro de especialidades, excecao feita aos idosos, gestantes e criancas, cujas marcacoes ficam a cargo da propria unidade; fora do municipio, o usuario leva os documentos para a secretaria de saude e o TFD faz as marcacoes; quando o sistema de regulacao se mostra insuficiente, e diante de alguma situacao adversa, os profissionais lancam mao dos contatos com seus pares para garantir o acesso a seus usuarios. Conclui-se que as redes sociais sao mobilizadas para garantir o acesso dos usuarios aos servicos quando as vias formais se mostram insuficientes ou oferecem barreiras. A forma com que a rede se articula e como ocorrem as relacoes sociais e entre equipes refletem na qualidade do servico prestado e, consequentemente, na continuidade ou nao do cuidado. Os estudos sobre redes no trabalho das equipes de saude no Sistema Unico de Saude brasileiro colaboram para evidenciar o papel das relacoes profissionais em rede e suas dinâmicas, como arranjos organizativos que visam superar as barreiras para o acesso universal a saude.
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