A VISITA DOMICILIAR REALIZADA PELO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE NA VISÃO DO ENFERMEIRO

2012 
Introducao: Este estudo tem como objeto a visao dos Enfermeiros acerca das praticas desenvolvidas por Agentes Comunitarios de Saude (ACS’s) durante a visita domiciliar (VD) no contexto da Estrategia Saude da Familia (ESF). A Saude da Familia e uma estrategia centrada na familia, entendida a partir de seu ambiente fisico e social, o que facilita a compreensao ampliada do processo saude/doenca e a necessidade de intervencoes que vao alem das praticas curativas pelas equipes de saude da familia (BRASIL, 2001). O modelo preconiza uma equipe de carater multiprofissional (um medico generalista, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e quatro a seis agentes comunitario de saude por equipe) que trabalha com definicao de territorio de abrangencia, adscricao de clientela, cadastramento e acompanhamento da populacao residente na area (ESCOREL et al., 2007). A ESF preve ainda a utilizacao da atencao domiciliar a saude, em especial uma categoria mais especifica, a visita domiciliar que prioriza o diagnostico da realidade dos individuos. Os ACS’s devem pertencer a comunidade onde atuam desenvolvendo acoes nos domicilios de sua area de responsabilidade, como a VD. Participam da programacao das unidades, onde, suas atividades sao supervisionadas e coordenadas, principalmente pelos enfermeiros (CARBONE; COSTA, 2009) embora, nao sejam membros da equipe de enfermagem. Azeredo et al (2007) destacam que os ACS’s sao os maiores responsaveis pelo acompanhamento domiciliar das familias, no entanto, a VD nao deixa de ser realizada tambem por outros profissionais que compoem a equipe. Nesse contexto, definiu-se como objetivo conhecer a visao dos Enfermeiros acerca das praticas desenvolvidas por ACS’s durante a VD na Estrategia Saude da Familia. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo, de natureza qualitativa. O cenario de estudo foram duas Unidades Basicas de Saude da Familia. Os sujeitos foram oito ACS’s alocados nas unidades selecionadas. A coleta de dados foi realizada em 2010, por meio de entrevistas semi-estruturadas, e para a avaliacao dos dados utilizou-se a tecnica de analise de conteudo proposta por Bardin. Esta pesquisa seguiu as determinacoes do Conselho Nacional de Saude e foi aprovada pelo Comite de Etica em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saude e Defesa Civil do Rio de Janeiro atraves do parecer 324A/2009. Resultados: A partir da analise das entrevistas foram construidas tres categorias: a visao dos enfermeiros sobre as praticas de saude dos ACS’s desenvolvidas na VD; a segunda categoria aborda a interacao profissional entre enfermeiro e ACS's durante a VD; e, a terceira trata do vinculo entre ACS's e as familias na VD. Em relacao a primeira categoria os enfermeiros referem que o ACS identifica as demandas de saude da populacao durante a VD por meio da observacao, principalmente da infra-estrutura a das relacoes intrafamiliares. E, que estes sao responsaveis por compartilhar os achados com os outros membros da equipe revelando o quao complexo e o processo de trabalho em uma equipe multiprofissional. Dentro desta realidade o dialogo entre os profissionais e considerado fundamental para a dinâmica de trabalho desenvolvida na ESF. Realiza ainda acoes de educacao em saude a partir dos principais problemas de saude apresentados pela comunidade. Atividade esta avaliada pelos enfermeiros como predominante dentro das praticas do ACS. O discurso dos enfermeiros trouxe ainda a pratica educativa como a acao que frequentemente e desenvolvida em conjunto por estes profissionais. Por vezes, os enfermeiros relatam o fato do ACS acompanhar todos profissionais de saude ao domicilio por diversos motivos tais como, os outros profissionais sentem-se seguros ao caminhar pela comunidade com o ACS por este ser um morador daquela localidade, que no caso do cenario do estudo em particular apresenta um contexto de violencia. No entanto, o papel do ACS durante a VD acaba se limitando a acompanhante dos outros membros da equipe. O enfermeiro, como estabelecido pela ESF, realiza a visita domiciliar somente aos usuarios com necessidades de saude prioritarias identificadas pelos ACS. Neste caso, o enfermeiro acompanhado do ACS realiza a visita domiciliar, o que facilita a aproximacao com a familia e o desenvolvimento de praticas de saude mais coerentes com a realidade destes usuarios. Na segunda categoria, relativa a interacao profissional entre enfermeiro e ACS's durante a VD, os relatos demonstram que a principal atividade que eles realizam juntos e a educacao em saude especificamente orientacao acerca da prevencao e tratamento de algumas patologias. Evidencia ainda pouca interacao entre os profissionais, o que por vezes gera situacoes de conflito. Contudo nos relatos dos enfermeiros surgiram mencoes a confianca depositada nas praticas desenvolvidas pelo ACS. Com relacao a terceira categoria, a relacao dos ACS's com os usuarios e valorizada pelos enfermeiros, geralmente a familia adquire vinculo que facilita a interacao com a equipe sendo explicada pelo fato do ACS ter o papel de mediador da integracao entre a equipe de saude e a comunidade. Desta forma os usuarios sentem-se seguros para revelar suas vulnerabilidades e necessidades facilitando o diagnostico situacional e a elaboracao de estrategias de intervencao fundamentadas na co-responsabilidade. Conclusao: Ao pautar a visao dos enfermeiros sobre as praticas desenvolvidas pelo ACS’s durante a VD, identificou-se que o papel do ACS e atrelado a identificacao de demandas de saude das familias de sua micro area. Os ACS’s e enfermeiros orientam as familias sobre os principais problemas de saude que afligem a comunidade. A interacao profissional enfermeiros e ACS’s e pequena. Diversas vezes, ocorre desvalorizacao do papel do ACS pelo enfermeiro ao utiliza-lo apenas como acompanhante durante a VD. Acredita-se que a interacao entre ambos esta sendo prejudicada pela ausencia de reflexao em torno das praticas de saude desenvolvidas durante a VD. Apesar disso, as praticas desenvolvidas por esses profissionais foram reconhecidas pelos enfermeiros como importantes dentro do processo de trabalho, assim como vinculo dos ACS’s com as familias. Referencias ACIOLI, S. Novos olhares sobre a saude: sentidos e pratica populares. [tese de Doutorado em Saude Coletiva]. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 2003. 147f. BRASIL. Ministerio da saude. Departamento de Atencao Basica. Guia pratico do Programa Saude da Familia. Brasilia, DF: Ministerio da Saude, 2001. CARBONE, M.H; COSTA, E.M.A. Saude da Familia: Uma abordagem multidisciplinar. 2a. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2009. 261p. ESCOREL, S. et al. O Programa de Saude da Familia e a construcao de um novo modelo para a atencao basica no Brasil. Revista Panamericana de Salud Publica, Washington, v.21, n.2-3, p. 164-176, Feb./Mar. 2007. AZEREDO, C. M et al. Avaliacao das condicoes de habitacao e saneamento: a importância da visita domiciliar no contexto do Programa de Saude da Familia. Cienc. saude coletiva, Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 743-753, maio/jun. 2007.
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