Do sujeito com Corpo ao Corpo-Sujeito: Reconstruindo a Ideologia de Corpos Normofuncionais

2018 
O trabalho apresentado e expressao de um coletivo. Importante lembrar que nos, pesquisadores/as das universidades publicas, so podemos produzir o que produzimos por que experimentamos certas condicoes de trabalho. E a condicao destacada aqui e a de producao de um coletivo de pesquisadores/as, com tempo e sistematizacao das investigacoes de modo a garantir articulacao com o repertorio academico ja existente, as experiencias atualmente em curso e o exercicio reflexivo sobre os rumos da area de conhecimento a que nos dedicamos. E preciso dizer que a indignacao e que nos mobiliza a trazer este tema para compartilhar em um evento sobre Psicologia Corporal. O percurso realizado no trabalho e o seguinte: a) O que nos diz a expressao “sujeito com corpo”: as pessoas com deficiencia nos ensinando sobre o que essa dicotomia revela; b) E por que adotamos corpo-sujeitos? Nao da para usar so sujeito e achar que as pessoas vao lembrar que estamos trabalhando com a ideia de que o sujeito e seu corpo. Ademais, no caso das pessoas com deficiencia, mesmo as que, com deficiencia intelectual, carregam a marca de corpo impedido: basta lembrarmos os simbolos internacionais relativos a cada uma das deficiencias; c) Ideario normofuncional – a reducao do sujeito ao desempenho de seu corpo, tomado como coisa; d) Proposicao de abandonarmos a expressao deficiencia e passarmos a utilizar a expressao diferencas funcionais – viva o movimento de vida independente da Espanha; e) O corpo-sujeito com diferencas funcionais e a recusa do ideario normofuncional. Parafernalhas ortopedicas, proteses, implantes, exoesqueletos, todas essas sao possibilidades, mas nao sao condicionalidades para a vida digna. F) Convencao e sua definicao. Deficiencia como identidade, nao como constatacao do impedimento do corpo. Modelo anterior, baseado na reabilitacao, configura-se como sistema de opressao. G) Algumas operacoes ideologicas que tem, como efeito, o apagamento da demanda identitaria e a perpetuacao do ideario de normalizacao: a) banalizacao das diferencas via o jargao “todos somos diferentes”. Reducao das diferencas a qualidades diferenciais; Deslocamento da inclusao como processo de transformacao das condicoes de vida para movimento de insercao do “outro” em “nosso” mundo; A exigencia da aceitacao do “outro” como “o diferente”. Efeito dessas operacoes ideologicas e a reiteracao da impossibilidade de certos corpos-sujeitos que, quando aparecem, despertam choro, piedade... Tomadas pela ideia de superacao, muitas vezes, nao conseguimos viver a experiencia etica e estetica que aquela cena propoe, porque nao paramos de pensar “o quanto aquela pessoa teve que se superar para conseguir fazer isso ou aquilo”; “nossa, eu, que sou normal, nao conseguiria dancar assim, pular assim...”. Assim, assistimos a pessoas sem uma das pernas dancando forro, corais de pessoas surdas, bailarinas cegas, quadros pintados por pessoas sem bracos, bebes sendo cuidados por maes usuarias de cadeiras de roda. E preciso preguntar se a emocao esta na experiencia humana que a cena retrata ou na piedade que constitui nossa percepcao da deficiencia. Encerramos, convidando a conhecerem as teorias Crip e o Manifesto Freak; algumas das iniciativas de reivindicacao do direito a monstruosidade. Pessoas que nao querem fazer parte da massa amorfa de pessoas normais. Nao e normal implantar chifres ou cortar a lingua para faze-la bifurcada. Nao e normal mover apenas os musculos da cabeca. Nao e normal nao enxergar. E e isso que queremos: nao ser normais. Porque a normalidade implica passar a fazer parte de um sistema de opressao que define quais diferencas corporais sao possiveis e quais diferencas corporais nao sao possiveis. Somos uma profusao de corpos. Gordos, esqueleticos, deformados, reinventados. Sempre e necessariamente, corpos transformados na e pela cultura. Porque nenhum corpo e natural. Porque todo corpo-sujeito e uma intervencao politica. Assim, terminamos celebrando a possibilidade de honrarmos nossos corpos, sujeitos que somos de nossas transformacoes. Que possamos recusar a propositura da normalizacao que esta em curso, hoje, via o discurso da inclusao dos outros em nosso mundo. Porque, para honrar todos e cada um de nossos corpos-sujeitos, e preciso ter a coragem de reinventar nossos gestos, nossa ocupacao do mundo, nossos processos de subjetivacao. O mundo nao nos pertence se nao somos capazes de compartilha-lo com toda e qualquer pessoa humana. Assim, nao cabe propor a inclusao dos/as outros/as, naturalizando nosso lugar no mundo. Cabe admitir processos de dominacao que produziram a falacia do mundo como o ethos , a morada de alguns/mas para, entao, reconfigurar a discussao sobre inclusao, tomando-a como principio etico. Principio no qual toda e qualquer forma humana tem sua dignidade intrinseca reconhecida, restando-nos construir formas de acolhimento que reinsiram as experiencias desses corpos-sujeitos no conjunto das experiencias de humanidade. Palavras-chave : Sujeito, Corpo, Ideologia.
    • Correction
    • Source
    • Cite
    • Save
    • Machine Reading By IdeaReader
    0
    References
    0
    Citations
    NaN
    KQI
    []