Levantamento arqueológico nas margens do rio Alto Trombetas II: o sítio Faisal, Pará

2021 
O Projeto Geoarqueologia da Amazonia (CNPq-UFOPA) tem realizado o estudo etnopedologico junto as comunidades quilombolas que habitam a margem direita do rio Trombetas na Floresta Nacional Saraca-Taquera, municipio de Oriximina (PA). No âmbito deste projeto foram identificados ate o momento doze sitios arqueologicos pre-coloniais, tendo ocorrido a escavacao do sitio Faissal, comunidade Juquirizinho, na qual foi obtida grande quantidade de material cerâmico. A regiao do Trombetas/Nhamunda vem sendo alvo de interesse e pesquisas arqueologicas desde o seculo XIX ate a atualidade devido a ocorrencia de idolos de pedra, muiraquitas, sitios extensos com terra preta e uma cerâmica indigena antiga ricamente decorada. Os estudos que se debrucam sobre esse material apontam a incidencia de ao menos tres tipos cerâmicos com cronologias distintas. O Konduri , mais superficial e recente (entre X e XV d.C.), e associado a Tradicao Inciso-Ponteada, sendo marcado pelo uso de grande quantidade de cauixi como antiplastico, profusao de modelados, incisoes e ponteados como motivos decorativos, bases tripodes com suportes conicos e adornos biomorfos. O Poco , de estratigrafia mais profunda e antiga (I a.C. e IV d.C), vem sendo relacionado a complexos cerâmicos da Amazonia Central (Manacapuru e Acutuba), caracterizando-se pela utilizacao da policromia, modelado e incisoes como decoracao, cauixi e cariape como antiplastico predominante e vasos carenados. Ha ainda a ocorrencia de outro tipo associado a decoracao incisa “espinha de peixe”, mas sem grande aprofundamento em sua analise na literatura disponivel, sendo caracterizado pela utilizacao de mineral (quartzo) como antiplastico, fragmentos pouco espessos, macicos e por vezes decorados com motivos incisos e adornos circulares. Esse trabalho tem o objetivo de apresentar os dados preliminares obtidos a partir da analise do material cerâmico do sitio Faissal, que apresenta predominio da cerâmica Konduri e intrusao significativa da chamada cerâmica “espinha de peixe” no mesmo horizonte estratigrafico, sendo pontual a incidencia do material Poco . Tal correlacao entre tipos cerâmicos distintos, antes de dizerem respeito a limites espaciais e temporais de grupos culturais diferenciados, tem o potencial de discutir a interacao entre industrias cerâmicas ao menos em parte contemporâneas. Afinal, trata-se de numa regiao conhecida pelo contato e inter-relacao entre culturas arqueologicas oriundas da Amazonia Central e Baixo Amazonas, bem como pelo registro etno-historico e etnografico da insercao das populacoes indigenas locais em extensas redes de trocas nas Guianas, onde a calha principal do Amazonas seria um dos polos de atracao.
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