Guia de Gestão Autônoma de Medicamentos como dispositivo na formação médica

2017 
Este trabalho relata a experiencia de um grupo de estudos formado por pesquisadores e academicos de medicina da Universidade Federal Fluminense no intuito de investigar as implicacoes na formacao medica da cogestao nas praticas de saude e da construcao da autonomia. O grupo de estudos e resultado do desdobramento de uma pesquisa de doutorado em curso na mesma universidade, cujo projeto encontra-se em fase de autorizacao para intervencao no servico publico de saude mental do municipio de Niteroi, tendo como proposta a utilizacao do guia de Gestao Autonoma de Medicamentos (GAM) para problematizacao das praticas de uso de psicotropicos, de construcao dos processos terapeuticos e de reproducao da medicalizacao da saude mental. O guia GAM, de origem canadense, foi adequado a realidade brasileira por pesquisadores e usuarios de saude mental e e formado por pequenos textos e perguntas relacionadas as experiencias dos usuarios com psicotropicos. Atraves de sua leitura conjunta em grupos terapeuticos, funciona como um dispositivo que problematiza questoes relativas as formas de utilizacao de medicamentos psiquiatricos, instigando a maior participacao dos usuarios no tratamento, favorecendo o questionamento da hegemonia do saber medico expressa no processo de medicalizacao e possibilitando a construcao cogestiva de novas formas de cuidado e de producao do conhecimento. Este estudo tem como objetivos: promover a preparacao metodologica, bibliografica e sensivel de pesquisadores e graduandos de medicina para intervencao no servico publico de saude mental de Niteroi; provocar a implicacao de pesquisadores, usuarios e trabalhadores na proposicao de terapeuticas mais participativas e produtoras de autonomia; avaliar o impacto desse processo na formacao medica. Atraves de reunioes semanais do grupo de estudos, foram produzidos debates, visitas a servicos de saude mental e articulacao com a equipe do ambulatorio de Pendotiba (integrante da rede de saude mental de Niteroi/RJ), com o intuito de construir uma proposta de intervencao no mesmo, a ser iniciada em setembro de 2016. Dois alunos de graduacao em Medicina e um pesquisador do grupo de estudos participarao da intervencao com usuarios e trabalhadores no ambulatorio citado e os demais integrantes atuarao como supervisores atraves do compartilhamento semanal da experiencia vivida. Ao final, serao avaliados os impactos que a intervencao, o alinhamento teorico e a partilha de experiencias terao na formacao medica dos alunos participantes. Alem de fomentar a busca por praticas de saude cogestivas que estimulem a autonomia do usuario e do trabalhador, a participacao no projeto tem permitido que alunos e pesquisadores atentem-se a forma como o conhecimento medico e produzido, muitas vezes excluindo, deste processo, o usuario dos servicos; estimulado a producao de autonomia e uma forma de producao de saberes que inclui o conhecimento do usuario no cuidado em saude e fomentado o questionamento da medicalizacao do campo da saude. Encontramos no guia GAM uma abordagem incomum a pratica medica habitual, oposta a medicalizacao e com a proposta de substituicao do vinculo disciplinar e vertical pela relacao cogestiva, a qual propicia a construcao da autonomia do usuario de saude e o cuidado com o outro.
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