Impasses na transição para uma agricultura de base ecológica : o Projeto Café de Lerroville-PR

2009 
Este trabalho busca compreender como um modelo de substituicao de insumos para uma agricultura de base ecologica se tornou falacia do modelo de desenvolvimento rural. Optou-se por estudar o Projeto Cafe de Lerroville (PCL) e a transicao para uma agricultura de base ecologica para analisar como o processo de transicao foi definido por aspectos socioculturais, economicos e politicos. A insercao das associacoes ACAL (Associacao de Cafeicultores da Agua da Limeira) e APRALA (Associacao de Produtores da Agua da Laranja Azeda) na rede de comercio justo solidario modificou a configuracao das comunidades Laranja Azeda e Limeira, zona rural do distrito de Lerroville, municipio de Londrina-PR. Estrategias de desenvolvimento rural local foram pensadas por agentes de desenvolvimento para que alem da agregacao de renda ao produto cafe, as familias agricultoras deixassem de produzir convencionalmente e adotassem um manejo ecologico do solo, plantas e insetos. A base teorica deste trabalho busca na perspectiva orientada ao ator e na abordagem agroecologica elementos para entender a constituicao e o processo de transicao pautado na substituicao de insumos. Os objetivos especificos da pesquisa sao: (i) apresentar o Norte do Parana e algumas praticas cotidianas e culturais dos agricultores; (ii) analisar o PCL, as tecnicas inseridas pela transicao e ressaltar acoes diretivas ou participativas dos agricultores na mudanca de sistema de cultivo; (iii) examinar as relacoes entre os atores envolvidos, as etapas e a trajetoria de transicao para uma cafeicultura orgânica. A observacao de campo, a vivencia no local, as entrevistas estruturadas e semi-estruturadas, a construcao de mapas genealogicos e mapas das propriedades fazem parte do conjunto metodologico, na intencao de testar a seguinte hipotese: a substituicao de insumos do modelo atual de agricultura orgânica incorpora os padroes convencionais de transferencia tecnologica, prescreve a transicao sem estar atrelada a metodologias participativas e deixa de permitir uma relativa autonomia do agricultor. O nicho de mercado para produtos orgânicos, as representacoes sociais sobre os sistemas de cultivo, a transferencia vertical de conhecimento e o descomprometimento com as normas sociais e os costumes da comunidade (por parte das instituicoes) definiram a trajetoria do Projeto Cafe de Lerroville. A analise das entrevistas mostrou que os aspectos economicos e politicos da experiencia de transicao sao o aparente do processo e tambem explicam a desmotivacao dos agricultores com a transicao como, por exemplo: o interesse destes pelo nicho do mercado orgânico; a relacao conflituosa entre as instituicoes, os agentes de desenvolvimento e os agricultores. Os aspectos sociais e culturais estao nos bastidores das explicacoes sobre o “insucesso” da experiencia e foram identificados durante a pesquisa etnografica como, por exemplo: a importância das atividades religiosas e de lazer para a manutencao social do grupo; as sutis divergencias produtivas entre as associacoes, que se tornaram uma cooperativa durante a transicao, e a cultura local, baseada no cultivo do cafe, como agente movedor da historia de vida e da regiao.
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